Copa Verde: ausência de clubes de elite é obstáculo para crescimento de competição

Copa Verde, competição criada para valorizar o futebol das regiões Norte e Centro-Oeste do país tem tido problemas com patrocínios e transmissões.

A Copa Verde tem dado bastante espaço para clubes de menor visibilidade no país. No entanto, desde a sua criação, a competição tem encontrado dificuldades para atrair clubes que aumentariam ainda mais o público do torneio, a exemplo do Goiás, que apenas em 2023 chegou na decisão, apesar de ser um dos clubes mais tradicionais e de maior poderio financeiro da região.

Situação essa que se repete não só no clube alviverde, mas em grande parte das equipes goianas, que constantemente possuem ao menos um representante na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Apesar de ter o futebol mais desenvolvido entre os estados da região, nenhuma equipe de Goiás venceu a competição, sendo as melhores campanhas do Vila Nova, que foi vice-campeão em 2021 e 2022.

O QUE É

Criada em 2014, a Copa Verde surgiu com a mesma pretensão da Copa do Nordeste, ser uma competição regional com boas premiações aos clubes que a disputassem, aumentando a competitividade na região e potencializando os clubes no cenário nacional. Anualmente, participam do torneio os campeões e vice-campeões estaduais dos estados do Norte e Centro-Oeste, e também do Espírito Santo, além de quatro vagas distribuídas pelo Ranking Nacional de Clubes (RNC) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

copa verde

Estádio Serra Dourada.
Reprodução: Boaventuravinicius / Wikimedia Commons

No entanto, o torneio nunca foi unanimidade. Nas duas primeiras edições, por exemplo, a organização do torneio não contou com a filiação da Federação Goiana de Futebol (FGF), algo que só aconteceria no ano de 2016. Ainda assim, quando os clubes goianos puderam participar da competição, tanto Atlético Goianiense quanto Goiás recusaram os convites, à época repassados para Vila Nova e Aparecidense.

Esse comportamento não foi muito diferente nos anos seguintes. O Atlético Goianiense se classificou para todas as edições do torneio, mas só participou de fato em 2020, realizada no primeiro semestre de 2021 por conta da pandemia de COVID-19. Do estado de Goiás, o representante mais constante é o Vila Nova, que participou de cinco edições.

Carlos Frontini, diretor de futebol do Vila Nova, comentou sobre o interesse do clube em participar regularmente da competição: “Nós entendemos que é uma competição que, além de dar rodagem para o atleta, pode nos beneficiar com uma vaga na terceira fase da Copa do Brasil”.

De fato, a possibilidade de uma vaga direta à terceira fase da Copa do Brasil é um enorme atrativo, não só pela parte financeira, mas também pela maior estabilidade no calendário nacional, como afirma Fernando Lima, assessor de imprensa do Goiás Esporte Clube: “Evita participar das duas primeiras fases da competição, que é em partida única, e pode pregar surpresas desagradáveis”.

A copa nacional, que neste ano terá as oitavas de final disputada no mesmo período das finais da Copa Verde, distribui grandes premiações todo ano, sendo também um bom alívio financeiro aos clubes participantes. Em 2023, a premiação total distribuída deve chegar próxima dos R$ 420 milhões, um valor recorde para a competição. Os clubes presentes na terceira fase do torneio já garantem uma premiação de R$ 2,1 milhões, caso do campeão da Copa Verde.

PATROCÍNIOS E TRANSMISSÕES

Ainda assim, essa alta premiação é parte de outra competição bem mais valorizada, já que o prêmio oficial da Copa Verde gira em torno de R$ 150 mil, mais um carro zero, valor quase que simbólico para clubes das primeiras divisões do Campeonato Brasileiro.

Para meios de comparação, o Remo, tradicional clube paraense e de presença constante na disputa da Copa Verde, possuía uma folha salarial de pouco mais de R$ 700 mil em 2022, de acordo com o presidente do clube Fábio Bentes. No ano passado, o Remo disputou a Série C do Campeonato Brasileiro, deixando evidente que a compensação financeira oferecida pela competição regional é abaixo até mesmo para os times da terceira divisão.

Usando a “irmã” da Copa Verde como exemplo, a Copa do Nordeste em 2023 teve R$ 41 milhões distribuídos em premiações. Entretanto, a CBF disponibilizou apenas R$ 1,5 milhão para a competição do Norte e Centro-Oeste. Enquanto Goiás e Paysandu serão premiados com um valor que não paga a folha salarial dos clubes, o Ceará, campeão do Nordeste deste ano, embolsou um valor acumulado de R$ 6,2 milhões só com a competição regional.

Essa enorme diferença de valores se dá pela falta de patrocínio e de acordos de transmissão da Copa Verde. Desde a saída do Esporte Interativo em 2018, a competição tem encontrado dificuldades. Em 2019, o streaming da Eleven Sports ficou responsável pela transmissão, mas não renovou o serviço para 2020, quando a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) transmitiu todas as partidas com exclusividade. Em 2022, o serviço de streaming japonês DAZN transmitiu apenas alguns jogos e em 2023 a competição não teve transmissão oficial, sobrevivendo apenas com as transmissões autônomas dos clubes.

Matheus Borges, da equipe de marketing do Goiás Esporte Clube, deixa clara a importância da divulgação: “É necessário fazer com que a competição tenha mais visibilidade. É através da exposição que grandes marcas e empresas se interessam em apoiar a competição”.

A fim de que a competição seja mais valorizada, Matheus ainda fala sobre a importância de times como o Atlético Goianiense participarem do torneio: “Outro ponto importante é a participação de times mais competitivos. É fundamental não deixar nenhum clube da elite de fora, por exemplo o Atlético, que não participou neste ano”.

CALENDÁRIO

Como já informado anteriormente, a relação do Atlético Goianiense com a competição é bastante conturbada. Ainda que se classifique anualmente, o clube só participou da Copa Verde uma única vez, na edição de 2020, quando caiu nas quartas de final para o Brasiliense, campeão daquele ano.

Em publicação feita pela jornalista Nathália Freitas, um dos principais motivos da ausência do time na edição do ano passado era a realização do torneio no segundo semestre. Já que a equipe encontrava-se na disputa da Série A do Campeonato Brasileiro e na fase mata-mata da Copa Sul-Americana. Neste ano, a Copa Verde foi disputada no primeiro semestre e, ainda assim, o Dragão recusou participar. A assessoria de imprensa do clube foi procurada, mas não se pronunciou.

A alteração que havia sido sinalizada por Julio Avellar, diretor de competições da CBF, após a final do ano passado, é vista como positiva para Borges: “Em 2022, o Goiás participou da competição, mas não levou o time titular. Sempre com o sub-20. Acredito que o interesse do clube em participar neste ano foi pela mudança do calendário”.

Opinião essa reforçada pelo assessor de imprensa do clube: “Mesmo jogando com o time alternativo em algumas partidas devido ao calendário apertado, a Copa Verde tem importância”. Essa valorização foi vista principalmente nas semifinais contra o Cuiabá, quando a equipe goiana colocou o time titular em campo, ainda que quatro dias depois teria o jogo de ida da final do Campeonato Goiano contra o Atlético Goianiense.

FINAL DA COPA VERDE

Agora, o Goiás luta para conquistar seu primeiro título da Copa Verde. Em um momento turbulento no Campeonato Brasileiro e ainda precisando garantir sua classificação na Sul-Americana, enfrenta um Paysandu que também não teve o melhor início de Série C e busca aliviar os ânimos dos torcedores com uma vitória, após a eliminação nas semifinais do Campeonato Paraense para o Águia de Marabá, clube que também eliminou o Goiás na 1° fase da Copa do Brasil.

Ainda não há informações oficiais sobre o que acontecerá com a Copa Verde no ano de 2024. A CBF até aqui também não falou sobre um improvável aumento da premiação e possíveis contratos de transmissão da competição, que deve ao menos manter a disputa no primeiro semestre, em conjunto com a Copa do Nordeste.

Fonte: Cásper Líbero.

Autores: Arthur Avelhanedo e André Milhomem.