Conheça o Ultra X3, projeto criado por Nelson Júnior, treinador de basquete que sonha em transformar a vida de crianças e jovens através do esporte.
O projeto Ultra X3, criado no início de 2023, é uma iniciativa inspiradora liderada por Nelson de Menezes Salles Júnior, treinador em Guarulhos, que decidiu criar uma oficina de basquete voltada para jovens e adolescentes. No entanto, sua visão vai além de ‘simplesmente’ transformá-los em jogadores profissionais.
“Eu acho que se tornar jogador fica em segundo plano. A minha meta é transformá-los em garotos responsáveis, com critérios e princípios”, afirma o treinador.
A oficina de basquete é um espaço inclusivo, um espaço onde jovens de diferentes idades e habilidades são encorajados a participar. Devido a ampla faixa etária dos atletas, Júnior divide os treinos por horário e idade, proporcionando o máximo de atenção e auxílio para todos os alunos.
O basquete 3×3 abre portas para atletas que desejam seguir carreira profissional. Conseguir uma bolsa atleta em universidades no Brasil, Estados Unidos e Europa, volta a ser um sonho para muitos jovens que haviam perdido as esperanças em relação ao basquete tradicional.
Atualmente, o Ultra X3 conta com 40 atletas, 32 meninos e apenas 7 meninas, dado que revela a desvalorização e falta de incentivo do basquete feminino no Brasil. “Infelizmente o basquete feminimo está largado, são poucas as atletas que estão prontas e poucos treinadores dispostos a extrair o melhor delas”, diz o treinador.
A atleta Beatriz Gonçalo, 17 anos, é uma das poucas meninas do projeto e uma de suas expectativas para o ano de 2024, é o aumento do elenco feminino, para jogar amistosos e competições.
Bia foi acolhida pela equipe e enxerga o positivo impacto que o treinador e seus parceiros de equipe têm em sua vida.
“O momento do treino é um momento de lazer e relaxamento, que tem contribuído muito para meu bem estar pessoal. O basquete vai muito além do bem estar físico e emocional, por ser um esporte de equipe, desenvolvemos um verdadeiro espírito de coletividade e ética esportiva”, relata Bia.
Os treinos lecionados por Juneba (apelido do treinador Júnior), vão além do basquete, e segundo o atleta Isaque Almeida, 16 anos, eles o fazem sentir vivo:
“Eu faço o possível e impossível para participar, o treino faz com que eu me sinta mais vivo e pra mim o basquete é como se fosse uma nova vida, então eu não imagino o que seria de mim sem esse esporte.”
Na quadra da academia AcquaSport, em Guarulhos- SP, local onde o treinador também jogava em sua adolescência, Júnior segue fazendo história e concretizando sonhos. O que antes fazia como atleta, hoje faz como treinador.
DE JOGADOR DE BASQUETE A TREINADOR, QUEM É NELSON DE MENEZES SALLES JÚNIOR?
Nelson de Menezes Salles Júnior, 48 anos, nascido e criado em Guarulhos-SP, deu início a vida de jogador de basquete aos 14 anos, pois tinha obesidade mórbida e decidiu procurar sua saúde através do esporte. Desde então, a paixão de Júnior pelo basquete só aumentou e hoje, ele é o idealizador do projeto Ultra X3 e treinador da equipe.
Durante o seu trajeto no basquete, Júnior jogou em clubes e cidades, como em Guarulhos e Porto Alegre. O treinador foi campeão paulista e ao jogar pela ACM São Paulo, foi vice-campeão mundial nos jogos entre YMCA de vários países, no Rio de Janeiro. Porém, aos 25 anos, Júnior deixou o basquete de lado. “Eu casei, comecei a ter responsabilidades, trabalhei no aeroporto como taxista e não tinha mais tempo pro basquete, mas eu me arrependo profundamente de ter parado”, afirma Júnior.
O basquete vai além do que acontece dentro da quadra e para Júnior, representa oportunidade. O esporte trouxe amigos, realizações de sonhos e o livrou de muitas coisas ruins durante sua vida. “O basquete me afastou da droga, da má amizade. Eu não sei o que é ficar bêbado graças ao do basquete. Minha mãe sempre usou isso para me ameaçar, então deu efeito”.
Hoje, o esporte voltou a fazer parte da vida de Júnior. Agora, ele tem o poder de mudar a vida de jovens e adolescentes da mesma maneira que sua vida foi impactada ao decorrer dos anos. “Hoje tem garotos que são usuários ou foram, e eu sei que o basquete afastou eles ou os privou de muita coisa ruim.”
Ao longo do tempo, Júnior teve alunos com transtornos psicológicos, como Síndrome do Pânico, TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), entre outros, e já treinou também atletas autistas. O basquete se mostrou como uma ferramenta de socialização e concentração para esses alunos, sendo que muitos foram capazes de encontrar no esporte uma válvula de escape.
UMA NOVA FAMÍLIA NAS QUADRAS
Dentro das linhas da quadra, onde a competição é acirrada e cada posse de bola conta, um fenômeno especial pode ocorrer: um time de basquete pode se transformar em uma verdadeira família. Nesses momentos, os jogadores vão além das estratégias e das vitórias e uma conexão profunda e duradoura transcende o esporte.
A proximidade entre os atletas do Ultra X3 colabora para que os treinos fluam com mais facilidade, pois um atleta não vai crescer sozinho, seus parceiros de quadra o ajudam a aprender e a evoluir. O atleta Isaque Almeida, relata que seus parceiros o ajudaram a evoluir e que se inspira nos diversos estilos de jogos, algo que ajuda no desenvolvimento de seu jogo.
A visão de Bia sobre a parceria em quadra não é diferente. O mútuo respeito e o ambiente acolhedor os fazem evoluir e comemorar o progresso dos colegas:
“Assim que cheguei eu percebi que haviam pessoas de diferentes níveis de habilidade, mas isso não foi um empecilho. Aqueles que estavam mais avançados sempre procuraram me ajudar e dar dicas que foram importantes para minha própria evolução. Tenho uma relação respeitosa com todos, aqui consegui fazer boas amizades.”
Júnior, também chamado de Juneba, preza pelo elo com a família desde que era um atleta e hoje, passa esse princípio aos seus atletas.
“A formação da família no Ultra X3 vem em primeiro lugar, para ir longe há que manter as duas famílias por perto, a que está do lado de fora torcendo e aqueles que estão dentro de quadra.”
DESAFIOS SEMPRE GERAM UM APRENDIZADO
Comandar uma oficina de basquete por conta própria não é uma missão fácil e Júnior enfrenta desafios nessa caminhada, mas seu amor pelo esporte e apoio da família, o ajudam a continuar. Um dos empecilhos, é encontrar patrocinadores.
“Conseguir patrocínio é muito mais difícil do que eu imaginava, eu mandei o projeto para 60 pessoas, 50 não me retornaram e 10 falaram que esse não era o momento”, explica o treinador.
Apesar do resultado encontrado na busca por patrocinadores, o treinador não desistiu. O pontapé inicial para a equipe do Ultra X3, foi o patrocínio do “Didio Pizzas”, o qual possibilitou a criação de uniformes aos atletas e ajudou na inscrição do campeonato Grand Prix.
Comandar um projeto dessa magnitude não é tarefa fácil, mas administrar sozinho é um desafio ainda maior.
“Eu tive que me reinventar, porque o 3×3 é diferente do basquete tradicional, a intensidade é outra. Hoje, eu quero um treino dinâmico, então é um desafio pesquisar e ir atrás desse dinamismo.”
UM PROJETO QUE VAI ALÉM DAS CESTAS
Os treinos e aprendizados que os atletas absorvem dentro de quadra, são levados para fora dela.
“Sei que da mesma forma que o basquete mudou a minha vida, pode mudar a vida deles, e essa evolução eu vejo na frequência dos treinos, no tratamento entre eles, no comportamento dentro e fora de quadra”, relata Júnior.
Um dos princípios do Ultra 3×3 é a família, e o treinador preza pelo contato com os parentes de seus atletas, pois eles são a base de tudo.
O treinador muitas vezes é mais do que apenas um treinador para seus atletas e para Isaque, Junior é o responsável por salvar seu basquete e o descreve como “treinador perfeito”.
“Ele simplesmente salvou minha carreira no basquete, eu já me achava velho e pensava que era momento de deixar o esporte como um hobby. Depois que ele entrou em contato, uma chama dentro de mim se acendeu, foi um sinal de que dava tempo de seguir esse sonho.”
O FUTURO DO ULTRA 3×3
Apesar de não saber o que o futuro reserva para o projeto, muitas metas foram estabelecidas pelo treinador, como:
1- Meninas no Time Feminino
“ Minha meta pro ano que vem é 30 meninas, uma equipe de sub-14, 16, 18 e 23 feminino. Eu sei que é uma meta ousada, mas pode ser alcançada.”
2- Participar de mais campeonatos
3- Contratar um auxiliar
Ao buscar auxiliares, Júnior enfrenta dificuldades, pois pretendentes para a vaga tendem a sentir um desmérito em ser um treinador, ou acreditam ser um fim de carreira se tornar treinador e não jogador.
4- Participar de campeonatos com time masculino e feminino
A participação em campeonatos trará mais visibilidade ao projeto e aos jogadores. Hoje, há atletas já ranqueados na FIBA (Federação Internacional de Basquetebol) e que são monitorados pelo Brasil.
5- Montar um 45+, um time de “super veteranos”
Para os atletas, participar de mais campeonatos, reformar a quadra e ter melhores camisetas de treino, são metas para 2024.
Autora: Ana Lara V. Verona.
Fonte: Cásper Líbero.