Filme deixa a desejar em alguns aspectos, mas apresenta ótimos personagens que podem ajudar na reconstrução do universo DC nos cinemas.
Em muitas oportunidades durante a divulgação da obra, The Rock (Dwayne Johnson), afirmou que Adão Negro seria responsável por mudar a hierarquia de poder da DC nos cinemas. Para tentar esse grande feito, o filme se apropria de características comuns dos grandes sucessos recentes do gênero, como cenas de ação épicas, diálogos simplórios de humor e o carisma dos personagens principais.
O Universo Cinematográfico da Marvel valorizou esses aspectos e trabalhou quase que exclusivamente com uma única fórmula de fazer filmes. Com narrativas semelhantes e uma boa amarração, a empresa conseguiu viver seu auge de popularidade, e agora esbarra em uma espécie de esgotamento.
Enquanto isso, O Universo Expandido da DC não conseguiu emplacar nenhum grande sucesso. O estúdio fracassou na tentativa de criar um grande universo compartilhado, e passou a apostar em filmes com propostas muito distintas, como o novo Esquadrão Suicida (2021) e The Batman (2022). Adão Negro vai na contra-mão das últimas produções e reacende a esperança da criação desse universo expandido.
O filme começa apresentando a antiga Kahndaq — província situada no continente africano — e a história de origem dos poderes do protagonista. Teth-Adam (The Rock) era um escravo que recebeu os poderes dos deuses e, motivado pela vingança, derrotou um governante cruel e libertou o povo. Aprisionado por cerca de cinco mil anos, Teth-Adam é libertado e precisa lidar com os novos dominadores de Kahndaq e a intervenção da Sociedade da Justiça da América, que o enxerga como um perigo iminente.
A direção de Jaume Collet-Serra acaba levando muito tempo para apresentar os núcleos principais, e faz isso de forma simplória. A conexão de Teth-Adam com a atual Kahndaq é guiada por dois personagens que funcionam apenas como ferramentas de roteiro, enquanto a convocação da Sociedade da Justiça é realizada por Amanda Waller (Viola Davis) sem muita explicação.
A boa notícia é que a reunião entre Teth-Adam e o grupo de super-heróis — composto por Gavião Negro (Aldis Hodge), Senhor Destino (Pierce Brosnan), Cyclone (Quintessa Swindell) e Esmaga Átomo (Noah Centineo) — empolga bastante, com cenas de ação muito bem construídas e diálogos que parecem sugerir temáticas mais sérias ao filme.
Quando isso vem à tona, fica nítido um dos principais problemas do filme, que é a falta de profundidade em diálogos que parecem ser apenas jogados pelo roteiro. Temas como neocolonialismo e utilização da violência como meio necessário para alcançar a justiça se perdem na narrativa, que prefere se importar em atingir um clímax de ação com um vilão caricato que não agrega quase nada.
Ainda assim, as boas atuações e o carisma do elenco conseguem manter o filme interessante, principalmente nos papéis desempenhados por Hodge e Brosnan, que fazem com que a história não vire mais um filme clássico do The Rock, que por vezes é maior do que os personagens que interpreta.
Adão Negro não é suficiente para mudar a hierarquia de poder da DC nos cinemas, mas pode ser considerado como um acerto do estúdio visando a continuidade do seu universo, objetivo claramente evidenciado na cena pós-crédito surpreendente.
Autor: Gustavo R. Silva.
Fonte: Jornalismo Júnior/USP.