Contendo um palacete e 37 casas em sua composição, Vila Itororó passa por processo de revitalização e se torna um polo de cultura no centro de SP.
As histórias da Vila Itororó e de São Paulo se confundem e se entrelaçam. Ao atravessar os portões, hoje simples, da vila, o visitante é transportado para uma cidade que não existe mais e que guarda a sete chaves a essência da capital paulista: eclética, surrealista e acolhedora. Impossível não sentir uma conexão imediata com o lugar.
Conhecida popularmente pelos vizinhos mais antigos como o “Castelo do Bixiga” a Vila Itororó foi idealizada e construída por Francisco de Castro, descendente de portugueses nascido em Guaratinguetá. Castro se viu imerso em uma São Paulo em expansão no início do século XX e decidiu entrar no ramo imobiliário, adquirindo um terreno relativamente grande no Vale do Itororó, região central da cidade, com interesses revolucionários em mente: a construção de algo que promovesse a ocupação do espaço público pela comunidade.
Sua construção foi iniciada em 1911 e se estendeu até meados de 1929. Porém, parte do espaço já havia sido inaugurado em 1922, coincidentemente (ou não) no mesmo ano da Semana de Arte Moderna. As edificações contavam com um luxuoso palacete central, para a moradia exclusiva de Francisco, e diversas casas ao redor, que seriam alugadas para outras famílias. Curioso ressaltar que a parte mais alta da encosta abrigava famílias com melhores condições financeiras.
Ousado e genial, Francisco de Castro construiu a Vila com materiais um tanto quanto inusitados. Ele utilizava os resíduos reciclados de outras edificações, como da demolição do Teatro São José (local onde atualmente existe o Shopping Light, no centro histórico da capital) e de outras construções, incorporando também diversas estátuas e, até mesmo, restos de trilhos de bonde.
Além das casas, Castro construiu também uma piscina. Não uma piscina qualquer, mas a primeira piscina particular de uso público da cidade de São Paulo, abastecida com as águas do riacho Itororó, que deu nome à Vila, e ficava localizado onde atualmente existe a Avenida 23 de maio. A piscina se tornou parte do projeto “Clube Éden Liberdade”, que ofereceria banhos, aulas de esgrima e eventos de dança.
Castro faleceu em 1932 e, aos poucos, a Vila foi se transformando em um cortiço, levando a uma rápida degradação. Em meados da década de 70, a prefeitura iniciou o projeto de tombamento do local, planejando também a formação de um centro cultural. A Vila só foi totalmente tombada em 2005, e em 2011 se iniciou um longo e complicado processo de desapropriação do local para fins culturais e de restauro, terminado somente em 2013.
A inauguração do Centro Cultural Vila Itororó ao público ocorreu em setembro de 2021, promovendo atividades artísticas e culturais para toda a população. Vale ressaltar que o restauro da Vila ainda não está completo, portanto o acesso é proibido em alguns espaços.
“A Vila foi uma ideia ousada e diferente do que havia na São Paulo da época. São Paulo estava passando por um processo de urbanização e temos vários marcos importantes nesse período, como a Semana de 22, buscando romper com o tradicional”, explica a historiadora Taís Helena Baltieri, formada pela USP. “É como se a Vila representasse a vontade de dar uma cara nova para o Brasil, para deixarmos de ter aquela cara colonial e formarmos a nossa própria identidade”.
Porém, apesar de toda a importância para a cidade, os visitantes afirmam que a falta de divulgação do centro cultural ainda é um grande problema. “A gente não conhecia a Vila. Vimos uma postagem nas redes sociais mas eu nunca vi mostrarem na televisão, nem divulgação oficial nem nada, se não fosse a publicação a gente continuaria sem saber da existência desse lugar maravilhoso”, relatam as amigas Paloma Montenegro e Paula Donega, que visitavam o centro cultural pela primeira vez. “Confesso que antes de conhecer a Vila para um projeto da faculdade eu nunca tinha nem sequer ouvido falar de lá”, relata Mila Kawasaki, estudante de Arquitetura e Urbanismo pela Escola da Cidade.
“O que eu achei legal foi que logo no início já tem uma televisão com um vídeo e com ele a gente já entende a história da Vila, a importância desse espaço”, opina Paloma sobre a visita. “A parte que eu mais gostei com certeza foi a piscina. Eu gostei do conceito, da forma como o fundador ficou empolgado com a ideia, achei realmente genial”, completa.
Já para Paula, a melhor parte é ao redor do espaço da piscina: “nos bancos de madeira você pode relaxar e apreciar a vista desse lugar tão lindo”.
“A Vila Itororó é um lugar importantíssimo para a cidade de São Paulo, do ponto de vista arquitetônico. É muito interessante observar como a Vila representa a cidade de forma sintetizada”, conta Mila. “A proposta de transformar o local em um centro cultural é maravilhosa, fiquei encantada quando visitei, a gente sente a história andando por aquelas ruas”, conclui.
Jair da Silva, aposentado e morador de São Paulo, diz que apesar das reformas a Vila ainda está degradada: “Espero que a Prefeitura cumpra a promessa de restaurar todo o local, a restauração parece um pouco parada. Reparei um resto de entulho em partes das ruínas, o que é uma pena, porque aqui tem tudo para se tornar um Centro Cultural ainda melhor, resgatando a história da nossa cidade”.
A Vila, além de sua beleza deslumbrante, oferece atrações culturais. Ao longo da semana, shows, feiras de artesanato, ocupações artísticas e também projetos como o “Centro de referência de promoção da igualdade racial Vila Itororó”, FAB LAB LIVRE SP e uma cozinha comunitária ocupam o espaço construído por Francisco de Castro.
Para conferir a programação completa acesse o site da Vila ou consulte pelas redes sociais.
Endereço:
Rua Maestro Cardim, 60- Bela Vista, São Paulo-SP
Como chegar?
Estação de metrô mais próxima: São Joaquim
De carro: Não há estacionamento no local, mas é possível estacionar nas ruas próximas
Horário de funcionamento:
De Terça a Domingo das 10h às 19h
Autora: Mariana Ribeiro.
Fonte: Cásper Líbero.