Seguindo um estilo caloroso dos filmes dos anos 1970 e 1980, o filme de Alexander Payne é um abraço de Natal fora de época e uma grande promessa nas premiações de cinema.
O encontro de desconhecidos presos um com o outro é uma premissa clássica, mas não significa que não possa ser feita com excelência. Os Rejeitados (The Holdovers, 2023) conta com atuações precisas em meio à perdição de cada personagem. Escrito pelo estreante em longas David Hemingson e dirigido por Alexander Payne, o filme é estrelado por Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph e Dominic Sessa.
Antes mesmo de passar na tela grande, o novo longa do roteirista de Sideways – Entre Umas e Outras (Sideways, 2004) e Os Descendentes (The Descendants, 2011), chama atenção pelo seu trailer. Títulos e letreiros coloridos, narração de locutor e pausas em momentos expressivos são apenas algumas características típicas de filmes de algumas décadas atrás presentes no trailer. O estilo continua no filme, que também captura o clima nostálgico e acolhedor das chamadas “dramédias” da época.
A história começa no fim do ano de 1970 em um internato de meninos em Massachusetts, nos Estados Unidos. Paul Hunham (Paul Giamatti) é o típico professor chato e Angus Tully (Dominic Sessa) o aluno rebelde. Porém, o destino dos dois estava entrelaçado além da sala de aula. Tully é deixado para trás no fim de ano pela mãe, que vai curtir sua lua de mel. Hunham é o professor designado a cuidar dos rejeitados da vez, que não tiveram para onde ir no recesso de Natal e Ano Novo.
Ambos se detestam. Hunham acredita que todos os meninos da escola são metidos filhos de ricos, enquanto Tully vê o professor de história como um grande antipático que apenas quer atrapalhar a vida dos alunos. No meio desse caos entra outra figura importante: Mary (Da’Vine Joy Randolph). A cozinheira da escola, assim como o professor, é encarregada de ficar no internato durante o período de festas, mas ela também carrega mágoas. A personagem perdeu seu filho ainda no último ano. Juntos os três formam um trio inusitado unido pelo acaso, luto, teimosia e um remanescente espírito natalino.
O grande trunfo do filme é dar espaço para os personagens não apenas se conhecerem uns aos outros mas também se conhecerem entre si de forma gradativa, sem revelar todas as suas camadas de uma vez. Mary e o professor já se conheciam e eram próximos, porém, a chegada de Angus ao grupo gera mudanças em todos.
Em meio a uma história bem estruturada pelo diretor duas vezes vencedor do Oscar de Melhor Roteiro, e aos personagens envolventes, mesmo que certas vezes caricatos, vale chamar atenção às atuações. Os três atores principais carregam os pesares de cada um de seus papéis de forma sublime. Giamatti é o mais consagrado dos três e lidera com uma interpretação sólida que caracteriza Hunham não em uma crescente constante, mas com altos e baixos ao lidar com Tully. O aluno por outro lado é vivido pelo novato Dominic Sessa que conquista com carisma e rebeldia em doses perfeitas para o filme. Por fim, Da’Vine Joy é um grande destaque. Mesmo como coadjuvante, ela conta a história de Mary com seu instinto materno sensível e verdades pontiagudas mas necessárias.
Com as premiações de cinema acontecendo, Os Rejeitados deve estar nas listas de indicações. O longa-metragem na tela grande com certeza é sempre a melhor opção, mas é impossível desvencilhar da ideia de assistir a este filme tão nostálgico em uma tarde em família.
O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:
Autora: Natalia Tiemi Hanada.
Fonte: Jornalismo Júnior/USP.