Como o gênero que já fez tanto sucesso desapareceu das telonas?
Dentro do mundo cinematográfico, é normal que gêneros de filmes flutuem em termos de produção e popularidade. Os filmes de faroeste tiveram seu auge na década de 1950, os de super-herói recentemente alcançaram o seu. Mas por que o gênero de aventura, que sempre esteve tão presente no cinema, com suas grandes audiências e a eternidade do espírito por ele propagado, desapareceu das telonas nos últimos anos? Para entender sua ruína, primeiro é preciso entender sua ascensão, que se estendeu desde os anos 1980 a 2010, e o porquê de tamanho sucesso entre o público.
O que é aventura?
O gênero de aventura pode ter muitos significados. Pode ser um selo de um DVD velho de locadora, uma categoria em um streaming ou, até mesmo, um sentimento. Muitas vezes confundido com fantasia, ação ou ficção científica, a aventura é um gênero próprio, que pode ser caracterizado pela trama surgir no mundo real ou ter alguma conexão com ele. A essência da aventura está na jornada, na busca e na exploração, que pode acabar sendo interior ou exterior ao personagem. Não são filmes que constroem um universo novo, que se baseiam na ciência, que consistem em lutas contra o bem e o mal ou que foquem no amadurecimento. Mas a grande questão desses longas é que eles podem ter um pouco de tudo isso e ainda se encaixarem no mesmo gênero.
Isso traz uma diversidade enorme, tanto de conteúdo, como de público, o que abrange todos os gostos em um único filme. Sejam adultos vivendo aventuras que toda criança sonha em ter, sejam crianças vivendo o que adultos viveram ou desejavam viver, a aventura tem um papel gigante em unir as gerações como um mesmo público alvo. Seja pela responsabilidade que as crianças ganham dentro da história, o que torna a aventura muito mais real, seja pela leveza e humor atribuídos aos adultos, que encaram a jornada como alguém que não virou um “adulto chato”, e sim como quem ainda mantém o espírito de todas as crianças: o aventureiro. É assim que tanto adultos quanto crianças conseguem assistir um filme em que ambos se entretenham, gerando o clássico “filme de família” ou “sessão da tarde”.
A primeira grande geração
Nos anos 1980, o gênero ascendia com o insuperável diretor Steven Spielberg. Com histórias que permanecem icônicas até hoje, como Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (Indiana Jones and the Raiders of the Lost Ark, 1981), Os Goonies, E.T. O Extraterrestre (E.T. The Extra-Terrestrial, 1982) e Jurassic Park (1993), o diretor remodelou não só o cinema, como os gostos do público. Em entrevista ao Cinéfilos, Bruna, uma fã do trabalho do diretor, afirmou: “Os filmes dele são atemporais, icônicos, não tem quem não goste”. Apesar de muito distintos, todos esses longas pertencem ao mesmo gênero, e se mostram tão icônicos que se tornaram símbolo de nostalgia e são homenageados até hoje, como em Super 8 (2011), que é uma clara referência aos filmes de aventura de Spielberg.
Nova era
No início dos anos 2000, o gênero de tanto sucesso teve uma virada. Com o aperfeiçoamento de efeitos especiais, os filmes de aventura passaram a ter um universo de possibilidades, e o enfoque foi no público infanto-juvenil. Atores como Brendan Fraser e Josh Hutcherson estamparam muitos dos longas de aventura lançados na época, como Viagem ao Centro da Terra (Journey to the Center of the Earth, 2008), Ponte para Terabítia (Bridge to Terabithia, 2007), Coração de tinta – O Livro Mágico (Inkheart, 2008), Zathura (2005) e A Múmia (The Mummy, 1999). Também icônicas, essas histórias estiveram presentes na infância da geração Z e ainda ocupam lugar em exibições de grandes audiências, como na televisão aberta. Bruna, de 15 anos, também ressaltou a importância das obras citadas na vida dela: “Esses filmes marcaram muito a minha infância, me trazem memórias afetivas. Mas hoje em dia sinto falta desse tipo de filme, que sempre trouxe esse espírito aventureiro para mim”.
A ruína
O sumiço do gênero a partir da década de 2010 se tornou uma incógnita dentro do mundo cinematográfico. Com o resquício da leva saindo ainda em 2011, com o nostálgico Super 8, e em 2012, com a sequência Viagem 2: a Ilha Misteriosa (Journey 2: The Mysterious Island, 2012), o gênero foi pouco a pouco desaparecendo das telonas. Mas se esses longas faziam tanto sucesso, por que eles ficaram cada vez mais escassos?
Uma possível explicação é a entrada de um substituto: a distopia. Quando tramas como Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012) e Divergente (Divergent, 2014) passaram a captar a atenção do público, a produção de aventura foi deixada de lado. Poucos filmes do gênero foram lançados nos anos posteriores, como Jumanji: de Volta a Selva (Jumanji – Welcome to the Jungle, 2017) e Jungle Cruise (2021). A escassez de novidades no gênero é tamanha que diversos sites montam listas dessa categoria com alguns poucos filmes de aventura e outros completamente diferentes, incluindo animação e, até mesmo, super heróis.
O que esperar
Esse vazio de tramas de aventura deixou o público sedento por histórias do gênero durante um longo tempo, o que explica o recente sucesso de bilheteria Uncharted: Fora do Mapa (Uncharted, 2021) que chegou a 401,7 milhões USD. Mesmo não sendo um longa surpreendente, e nem mesmo bem avaliado, com apenas 41% de aprovação no Rotten Tomatoes, ele traz de volta o espírito aventureiro que os fãs tanto sentiram falta, expressos nos 90% de nota por parte do público. Dessa maneira, é de se esperar que os filmes de aventura voltem em próximos lançamentos, já que, apesar de não serem sempre os favoritos da crítica, eles guardam um enorme público na manga.
Autora: Mariana Krunfli.
Fonte: Jornalismo Júnior/USP.