Depois de ter muitos familiares assassinados, a refugiada afegã e ex-policial Tereza* chegou ao país em busca de esperança. Hoje ela mora num abrigo do ACNUR.
Há dez meses, Tereza* começou a escrever um novo capítulo de vida em uma nova direção no Brasil. Assim que desembarcou, a refugiada afegã passou duas semanas no Aeroporto de Guarulhos com a irmã e um sobrinho. “Mesmo assim, eu estava feliz porque aqui tenho liberdade. Posso me expressar, posso dar minha opinião, posso ter um trabalho e fazer algo para evoluir”, conta.
Ela e os familiares viajaram sem nenhum plano e sem ter para onde ir. Mesmo assim, estavam cheios de esperança. “Eu não sabia de nada, mas pensava: quando chegar ao Brasil, vou descobrir”, lembra.
“Eu só sabia que queria chegar logo ao Brasil porque, no Afeganistão, não temos direitos. Nós, mulheres, não podemos frequentar escolas e universidades. Não tem nada que permita que a nossa vida avance. Por isso, eu queria uma vida no Brasil, uma vida tranquila e segura.”
Hoje Tereza vive num abrigo com apoio do ACNUR. Foto: ACNUR/Gisele Netto
Em busca de uma nova direção
Assim como Tereza, mais de 6 mil refugiados do Afeganistão chegaram até aqui, e o Brasil autorizou 12.399 vistos humanitários para essa população até agosto de 2023. São pessoas que buscam uma chance de reestruturar a vida em segurança depois de deixar o país, que enfrenta a maior crise humanitária do mundo. Descubra mais sobre esse assunto na página Em uma nova direção.
Você pode deixar uma mensagem de boas-vindas para Tereza e pessoas refugiadas do Afeganistão que, assim como ela, chegam ao Brasil em busca de recomeçar a vida em segurança: clique aqui. Você também pode fazer a diferença na vida de refugiados do Afeganistão por meio de uma doação ao ACNUR: clique para doar.
A refugiada mostra fotos de quando treinava policiais mulheres e de quando teve a casa revirada por agentes do governo. Foto: Diego Baravelli
“Eu perdi tudo o que tinha”
“Antes, minha vida era boa no Afeganistão. Eu trabalhava, tinha um bom salário e uma posição social. Eu perdi tudo o que tinha em minhas mãos”, recorda Tereza, que trabalhava no comando policial e era também professora no centro de treinamento de policiais mulheres em Cabul.
O curso ministrado por ela incluía módulos como mediação e resolução de conflitos, violência doméstica, primeiros socorros, ética e padrões morais, computação, informações fronteiriças e identificação de minas e explosivos.
Muitos familiares dela trabalhavam no governo do Afeganistão e foram assassinados. Com o agravamento da crise humanitária, Tereza e parte da família foram para o Irã. Ela passou dois anos no país vizinho e passou a mirar o visto humanitário brasileiro, trabalhando pesado com os familiares para comprar passagens para o Brasil (com custo médio variando de R$ 5 mil a R$ 7 mil cada).
A família conseguiu comprar bilhetes para quatro pessoas: Tereza, sua irmã, um irmão e um sobrinho. Os pais e um irmão ainda permaneceram no Irã. “Recebemos o visto para muitas pessoas da família, mas não tínhamos dinheiro para pagar para todo mundo”, explica.
Retraçando planos no Brasil
Hoje Tereza mora no abrigo de Aldeias Infantis SOS, financiado pelo ACNUR em Poá, município da Grande São Paulo. Lá, teve aulas de português; por isso, consegue se comunicar bem no idioma. Depois de oito meses no país, ela se sente em condições de reconstruir o próprio futuro. “Eu conheci muitas coisas no Brasil, eu vi vida aqui.”
Tereza conseguiu emprego em um restaurante em Poá, onde faz de tudo um pouco, incluindo limpeza, auxílio na cozinha e preparo de açaí — que adora. O principal objetivo dela agora é conseguir trazer a mãe para o Brasil. Além de juntar economias, Tereza fez uma vaquinha on-line para arrecadar recursos para a viagem, que deve ser em breve. “Eu não aguento mais de saudade. O que mais queremos é ela aqui com a gente.”
*Nome fictício para proteger a identidade da refugiada.
Fonte: ACNUR.