Muito além da autodefesa, a arte marcial representa busca pelo autoconhecimento e pelo bem-estar do corpo e da mente.
Na cultura japonesa, Qi é o termo usado para representar a energia cósmica e vital que permeia todos os seres e corpos. Também grafado como Chi ou Ki, é a força que criou e mantém a harmonia do universo e pode ser traduzida como “ar”, “força vital” ou “fluxo de energia”. É justamente na busca pelo Ki que se centra a prática fundada por Morihei Ueshiba nos anos 1920, de nome Aikido. A procura pelo Ki está explícita no próprio nome: Ai, que pode ser traduzido para união, cooperação ou junção; Ki; e Do, traduzido para caminho e trajetória.
O fundador desta prática, Morihei Ueshiba (1883-1969), também chamado de O-Sensei (ou grande mestre) pelos praticantes, nasceu na cidade de Tanabe, no centro-sul do Japão. Ele praticou artes marciais desde cedo, incluindo as que utilizam espadas, heranças dos samurais japoneses. Por volta de 1920, Ueshiba se aproximou da religião neo-xintoísta Omoto-kyo e se encontrou nos ensinamentos da meditação.
A meditação antes do treino é algo fundamental, já que todas as técnicas exigem que o corpo e a mente estejam alinhados, centrados e relaxados. [Imagem: Reprodução/Instagram/Centro de Aiki]
Foi a partir da união entre as experiências espirituais às técnicas samurais e de outras artes marciais que o Aikido foi desenvolvido. Sua prática ficou popularmente conhecida como “arte da paz”, porque suas técnicas se baseiam na absorção da energia empregada pelo atacante (também chamado de Uke) contra ele próprio, produzindo a autodefesa e a não utilização de força bruta.
É isso que afirma o Sensei Sérgio Sartori: “O grande diferencial do Aikido para as outras artes marciais é que não há competição, muito menos perdedores nem vencedores. Todos saem ganhando, da mesma forma que um artista ganha quando compõe uma música, por exemplo.” Para ele, é justamente por isso que o uso excessivo da força física, ao invés de ajudar, só atrapalha a prática.
“O fundamental é o relaxamento, os movimentos circulares e o alinhamento entre corpo e mente. É isso que vai produzir uma tonificação corporal, não do ponto de vista da força física, mas sim da produção de bem estar, saúde e aliviamento das tensões.”, afirma o Sensei. A partir dessa sensação de bem estar e conhecimento de si próprio,é possível entrar em contato com a nossa energia vital, o Ki.
Antes e depois do treino é necessário que haja o cumprimento aos parceiros e mestres. Antes da prática, diz-se“onegai shimasu”, que significa pedir licença e manifestar a boa vontade pelo que está por vir. Depois, diz-se “domo arigato gozaimasu”, significando o agradecimento pelo que aconteceu. [Imagem: Reprodução/Instagram/Centro de Aiki]
Após a morte do fundador Morihei Ueshiba, os ensinamentos do Aikido continuaram a ser repassados por outros mestres, com a ajuda de seus filhos e netos. No Brasil, a prática chegou nos anos 1960, mas apenas em 1997 foi fundada a Federação Brasileira de Aikido, a Febrai, pelo Sensei Severino Sales, falecido em 2019.
Os exames de mudança de faixa ocorrem sob a coordenação da federação. As faixas podem ser: brancas, amarelas(quinto Kyu) roxas (quarto Kyu), verdes (terceiro Kyu), azuis (segundo Kyu) e marrons (primeiro Kyu). Depois da faixa preta (primeiro DAN), é possível graduar-se em diferentes graus de DAN. Os exames consistem em demonstrações de técnicas, estudos e ensinamentos junto ao Uke (parceiro).
Um dos Dojos em que se ensina Aikido em São Paulo é o Centro de Aiki, localizado na região da Vila Madalena, onde o Sensei Sérgio Sartori integra a equipe de professores(as). Além das aulas de Aikido, há também a prática de Kinomichi, Iaido, Wing Chun e outras atividades corporais e de medicina oriental, como a acupuntura e a fitoterapia.
Autor: Gabriel Eid.
Fonte: Jornalismo Júnior/USP.