Arrume-se comigo: o impacto das redes sociais na indústria da moda

Em meio à popularidade do tema nas redes sociais, a moda passou a ser vista e consumida em favor de um público mais diverso, jovem e passageiro.

O conceito de moda sempre foi atrelado ao “se vestir bem”, o que, definido por um grupo específico da mídia, consiste no uso de peças da mais alta costura, as quais raramente são acessíveis para o público geral. Porém, devido a popularização do tema nas redes sociais, essa ideia sobre a moda está se tornando ultrapassada e tem se alterado tão rapidamente quanto a duração de um vídeo do TikTok. 

A MODA MAIS ACESSÍVEL

A pluralidade de opiniões que toma conta das plataformas digitais e o amplo alcance de influenciadores possibilitaram que diversos estilos, corpos e preferências passassem a coexistir e ganhassem notoriedade, abrindo espaço para que novas interpretações sobre o significado de moda fossem compartilhadas e ouvidas. inclusive, aumentando a acessibilidade do tema até para os mais leigos. 

“As redes sociais trouxeram sim mais visibilidade para a moda, e com isso, as pessoas ganharam mais espaço para discutir, opinar e criticar. Mas eu penso que desde que mundo é mundo, cada um enxerga a moda à sua maneira e a tecnologia não muda isso”, afirma a redatora da revista GQ Brasil, Ana Beatriz Gonçalves, de 24 anos. 

Ela também explica que os influenciadores digitais servem como uma espécie de vitrine para levantar questões sobre a democratização da moda. Mas, eles não são os únicos responsáveis por isso, e juntam-se a designers, estilistas, personal stylists, veículos especializados e aos próprios jornalistas nessa missão. 

Diante do maior interesse da população pela moda, o setor só vem crescendo, tanto em visualizações nas redes sociais, quanto em faturamento para as marcas. De acordo com uma publicação da revista Exame, o setor movimentou em 2022, R$ 229 bilhões no Brasil, sendo o maior em volume de quantidade de pedidos e representando 15% de tudo o que é consumido via internet. Esses números são justificados pela variação que se encontra atualmente no mercado, com o surgimento de marcas mais populares, preços menores e enfoque em estilos diversificados. 

A INFLUÊNCIA DIGITAL 

A moda se popularizou de fato nas redes sociais, sobretudo no TikTok, através da TREND “arrume-se comigo”, que tem conquistado os brasileiros desde o início de 2021. Essa tendência inclui vídeos de pessoas exibindo looks que elas vestem, ou vestiriam se tivessem a oportunidade, para compromissos diversos, como um almoço em família, um piquenique ou para ir à faculdade, por exemplo. Isso deu oportunidade para que novos nichos e formatos de vídeos surgissem e alcançassem um grande número de visualizações. 

Em entrevista para Esquinas, a influenciadora e estudante de moda Nath Carvalho, de 21 anos, explica como as redes sociais foram fundamentais para aumentar o interesse do público geral pelo tema.

“As pessoas costumavam acreditar que a moda se resumia a Victoria Secrets e ao “O Diabo Veste Prada”. Mas então as redes sociais trouxeram mais visibilidade para pessoas, que talvez nunca tivessem espaço para falar sobre o tema em outro lugar, fossem ouvidas e pudessem influenciar uma comunidade. Houve uma maior inclusão em todos os aspectos.”

Natália entrou no curso de moda em 2020, ela conta sempre ter se interessado pela área. Em meio a pandemia e a popularização do TikTok, ela percebeu que ainda havia poucos perfis voltados para o tema. Dessa maneira, Nath decidiu começar a gravar vídeos informativos, explicando conceitos e estéticas do mundo da moda.

“Antes do TikTok, para pesquisar mais sobre um assunto era necessário ter um interesse prévio, e o público por não conhecer muito a respeito, não se interessava em se aprofundar no tema. Quando os vídeos produzidos no TikTok sobre moda começaram a furar a própria bolha e alcançaram pessoas que nunca sequer tinham lido alguma coisa sobre o tema antes e que passaram a se sentir atraídas por esse conteúdo, eu notei esse interesse em crescimento e comecei a gravar vídeos com o intuito de compartilhar e ensinar as pessoas o que eu sabia.”

TikTok se tornou de fato uma ferramenta de pesquisa para muitas pessoas e tem transformado determinados assuntos mais acessíveis do que parecem. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Google, 40% dos seus usuários, a maioria jovens, tem optado por fazer mais pesquisas nas plataformas digitais do que no Google. 

“Quando eu publico vídeos mais informativos, percebo que as pessoas tendem a se interessar mais, a ter uma maior vontade de aprender e a fazer comentários positivos. E as marcas têm se atentado a isso, elas têm se preocupado muito em preservar suas imagens nas redes sociais e em evitar o cancelamento, ainda que tenham sofrido maior pressão em se posicionarem diante de polêmicas e de causas sociais.”

moda

Nath Carvalho grava conteúdos sobre moda nas redes sociais desde 2021.
Instagram / @nathcarvalhor

Essa mudança na forma como a moda é vista e consumida também alterou a maneira como as marcas têm se comportado, e atentas as novas tendências, elas enfatizam alterações no setor. 

AS TENDÊNCIAS-RELÂMPAGO

Atualmente, o usuário das redes socias é bombardeado a todo momento por informações, notícias e propagandas, as quais, por serem geradas em grande quantidade, acabam por não serem absorvidas de maneira adequada pelo público, que coleta apenas o superficial de cada conteúdo visto, lido ou ouvido. 

Na moda, esse processo não é diferente, e com o crescimento da popularidade do setor justamente nas redes sociais, as marcas têm se adaptado a esse volume desproporcional de informações diárias. Focando em atrair a atenção de novos compradores, principalmente o público jovem, elas alteraram a sua forma de produção e de divulgação. 

A exemplo da marca italiana Fendi, que, para celebrar os 25 anos de sua famosa e luxuosa linha de bolsas Fendi Baguette em outubro de 2022, investiu na publicação de uma série de vídeos curtos no TikTok em que influenciadores e celebridades faziam dancinhas virais enquanto seguravam a bolsa.

Além disso, com o aceleramento das tendências, usuários reclamam que é cada vez mais difícil acompanhar as novas coleções. Essas campanhas publicitárias e a velocidade em que novas tendências estão sendo desenvolvidas dividem a opinião pública, alguns acreditam que as marcas estão cedendo a necessidade de vender e se tornando menos exclusivas e luxuosas, outros pensam que é essencial mudar um pouco os padrões para se adequar ao público atual. 

Como todo processo que exige transformações, surgirão ainda consequências negativas e positivas, as quais não devem competir por relevância, ao que se entende que tanto a acessibilidade, quanto a conservação da moda como uma construção artística, devem ser priorizadas no espaço público. Já que as redes sociais trazem mais visibilidade para o tema, basta usá-las com consciência para resolver esse impasse. 

Autora: Carol Malheiro.

Fonte: Cásper Líbero.