Métodos de emagrecimento alternativos têm sido propagados pelas redes sociais, mas até que ponto essas fórmulas são seguras para a saúde do corpo humano?
“Há pessoas que se alimentam das redes sociais e não vivem a própria vida. Ficam ali, seguindo perfis idealizados, criam aqueles padrões na cabeça e perdem a própria identidade: não sabem quem são e se prendem a essas imagens.”
Luana Alves, psicóloga
Com a popularização das redes sociais ocorrida na última década, houve também o reforço dos padrões de beleza, que se mostraram cada vez mais distantes. Magreza extrema em contraste com curvas exuberantes, pele perfeita, ausência de pelos, narizes minúsculos e bocas enormes são as imagens a ocupar as telas exibidas à população, que se sente, em parte, excluída ao não ver essas mesmas características em seus respectivos espelhos. Segundo uma pesquisa internacional realizada Instituto StrategyOne e encomendada pela marca Dove em 2011, das 6.400 mulheres contatadas, apenas 4% se sentiam belas.
Nesta reportagem, a Jornalismo Júnior mostra ao leitor a importância do acompanhamento de um profissional adequado em sua busca pelo emagrecimento, além de frisar a importância da auto aceitação do corpo.
Consequências psicossociais
Para um melhor entendimento, o Laboratório conversou com a psicóloga Luana Alves. Ela relatou o peso que o acesso às redes sociais traz aos seus pacientes. Mostrou, também, como a busca estética afeta até mesmo a vida social de quem está sujeito a essa pressão: “A pessoa deixa de ir à casa da tia porque ela faz um bolo e ela não pode comer o bolo para não engordar. A mesma coisa com o aniversário de amigos em rodízio, em que a pessoa vai e não come”. Assim, o indivíduo deixa de participar daquilo que lhe faria bem por conta da autoimagem, ou seja, da concepção pessoal que um indivíduo tem de si mesmo.
Por isso, Luana dá destaque à questão do equilíbrio. Segundo a profissional, pode-se enxergar uma problemática a partir do momento em que a vontade do corpo perfeito impede o indivíduo de ter uma vida normal, ou seja, quando passa a limitar-se excessivamente. Ela aconselha quem sente o efeito negativo das redes sociais em si à moderação desses acessos acompanhada de um processo terapêutico com trabalho de autoconhecimento.
Fórmulas “mágicas” do emagrecimento
Uma consequência dessa pressão estética é a forma como as influenciadoras digitais lucram por meio de fórmulas consideradas milagrosas para atingir os ideais de beleza estabelecidos por elas mesmas. Jejuns, dietas sem eficácia comprovada, shots antinflamatórios, chás secativos, bebidas que “derretem gordura” e a promoção do ódio aos carboidratos são apenas alguns dos exemplos mais famosos das inúmeras táticas propagadas pela internet para uma rápida transformação física.
Como exemplo, pode-se lembrar da Bárbara Heck, participante do BBB 22. A modelo não consumia carboidratos, além de utilizar a técnica de chupar limão em jejum. As atitudes da participante renderam discussões não só fora da casa, mas também entre os participantes, além de gerar um alerta da produção pedindo para ela se alimentar melhor. Jade Picon, outra participante, também chamou atenção por relatar a restrição a carboidratos que mantinha anteriormente ao programa e contar como o jejum intermitente a ajudou a alcançar seu corpo, que segue os padrões de magreza propagados na internet. Contudo, essas técnicas são formas seguras e saudáveis para emagrecer?
A doutora Flavia Amanda Costa Barbosa nega. Especialista no assunto, a endocrinologista com pós-doutorado em Harvard explica: “A gente faz qualquer coisa para emagrecer, tem inúmeras dietas como essas, mas a gente tem de se pautar no estudo científico. Mas as pessoas não querem isso: elas querem a fórmula ‘mágica’ para perder peso de forma fácil”. Ela reforça que, mesmo antes da internet, já havia o costume de se procurar métodos mais fáceis e alternativos aos científicos, mas que as redes sociais facilitaram a divulgação de métodos perigosos.
Essas táticas podem causar um desequilíbrio no organismo. A dieta cetogênica — na qual a pessoa ingere mais gordura em vez de carboidratos para que o organismo utilize a própria gordura como fonte de energia e, então, perca peso rapidamente —, bem como o jejum intermitente, por exemplo, têm um retorno muito negativo. Elas podem até causar aumento do colesterol e de risco de doenças cardíacas.
Porém, mesmo com o acompanhamento médico, é necessário avaliar a ética do profissional escolhido: “O melhor médico parece ser o que faz emagrecer rápido, não aquele que se preocupa com a saúde do corpo. Esse é o dilema ético do endocrinologista: não é emagrecer a qualquer custo, mesmo com assistência médica, porque a medicina também tem um caminho errático”.
Flávia relata situações em que pacientes foram internados em estado grave por terem utilizado drogas para emagrecer excessivamente: “Algumas pessoas sem ética estão aí para te passar essa droga que vai danificar sua tireoide, que vai danificar até seu fígado, seu ovário, seus testículos, a preço de uma perda de peso rápida. Temos que tomar cuidado com essas propagandas”. Ela frisa, também, como a propagação dessas técnicas pode levar pessoas com predisposição a distúrbios alimentares ao desenvolvimento de um quadro de bulimia, de anorexia ou de compulsão alimentar.
É importante manter em mente como os padrões estéticos são impostos ao corpo, principalmente ao feminino, por diversas razões como a divulgação de dietas alternativas sem o acompanhamento médico e o lucro com produtos para emagrecer sem comprovação científica . É muito difícil o ser humano fugir da pressão social para se enquadrar ao físico idealizado, sobretudo com a influência das redes sociais. Mas, a busca por métodos científicos direcionados à individualidade de cada pessoa e prescritos por profissionais éticos adequados é fundamental à saúde mental e física de cada um.
Autora: Sophia Vieira.
Fonte: Jornalismo Júnior/USP.