1ª Marcha para Exú em SP combate intolerância religiosa e racismo

O evento ocorreu no dia 13 de agosto, em frente ao MASP, na Avenida Paulista, e visou combater o racismo religioso no país.

A partir de dois trios elétricos, os organizadores motivaram a multidão que os acompanhava a cantar e saudar os orixás das religiões de origem africana. Vestidos majoritariamente de vermelho e preto, as cores que representam Exú, o público começou a celebrar às 12 horas. Havia desde crianças até idosos enaltecendo suas divindades, representados por três bonecos, sob o lema “nunca foi sorte, sempre foi macumba!”. Além de apreciar a marcha, diversas pessoas também colaboraram com a doação de alimentos, destinados a comunidades carentes e instituições necessitadas.

ESQUINAS conversou com alguns dos “marchadores” para saber o que eles acharam do ato, qual a sua importância e impacto.

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Os trios ficaram estacionados em frente ao MASP e os “marcheiros” foram preenchendo os arredores.
Foto: Tiffany Maria

Silvio Claudino, 41, umbandista há mais de 18 anos, relata que a ação, além de saudar os guardiões, “os povos das ruas”, visa divulgar trabalhos sociais. Ainda, ressaltou a notabilidade que um lugar público, e tão movimentado, como a Avenida Paulista, pode trazer para o movimento. Ele espera que, com a marcha, o preconceito acabe.

“Muitos veem a umbanda como algo negativo, mas na verdade ela só é paz, amor, esperança e coisas boas para nós”, diz. 

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Durante o evento, os “marcheiros” fizeram rituais da religião.
Foto: Tiffany Maria

Uma família assistia o caminho da marcha e, ao ser abordada, ficou mais do que feliz em compartilhar sua história. Edileuza, 56, foi uma pessoa que mudou sua perspectiva quanto à umbanda. Antes, como nos disse, ela era muito ignorante, acreditava que “era tudo do mal”, até que seu filho Denis, 32, apresentou a Mãe Lu para ela. Na marcha, emocionada, Edileuza relatou a sua ligação com a mãe de santo carioca: “Eu vim aqui hoje para buscar energias. Aí eu chego, consigo ver a Mãe Lu de pertinho, e ainda ganhei o anel dela. Tem alguma coisa, não tem?”. Denis complementou dizendo que a energia transmitida é quase tocável, ajudando principalmente nos momentos de dificuldades:

“Quando você entende que nunca está sozinho, consegue forças para ir muito longe.”

No meio de mais de 60 mil pessoas que passaram pela marcha, segundo o organizador do evento, Jonathan Pires, era difícil sentir-se sozinho. Silvio, por exemplo, não esperava que teria tanta gente e surpreendeu-se com a organização:

“Tá bonito! O Jonathan e a Mãe Lu estão de parabéns.”

Edileuza, por outro lado, disse que, por ter sido a primeira marcha, esperava mais pessoas. Denis acredita que a pouca divulgação foi a razão:

“Só ficamos sabendo porque somos seguidores da Mãe Lu.”

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O primeiro trio carregava um cartaz em que estava escrito: “Nunca foi sorte, sempre foi macumba”.
Foto: Davi Alves

Sua amiga, Heloíza, de 27 anos, complementou dizendo que, devido a um pré-conceito, as pessoas pesquisam pouco sobre esses eventos. Essa realidade foi presenciada nos próprios arredores da avenida, quando abordamos um homem que acreditávamos não estar participando da marcha, e muito menos saber sobre ela: “tá tão na cara que eu não faço ideia do que está acontecendo?”, pergunta o rapaz. 

Em contrapartida, na mais famosa avenida do Brasil, foi inevitável encontrar opositores, que sabiam exatamente o que estava acontecendo, demonstrando sua discordância. Há cerca de sete metros de distância da marcha, havia um senhor distribuindo um livreto com os dizeres: “O inferno não é brincadeira”. Heloiza havia explorado exatamente essa questão, quando perguntada sobre o impacto que a marcha causaria. “Vão ter várias pessoas falando que são contra, né? Da próxima vez, pode ter um embate aqui, não sabemos o que vai acontecer. Dá até um certo medo”, conta.

“Talvez seja por isso a pouca divulgação, por causa da massa evangélica querer tá aqui, querer banir, querer fazer alguma coisa. Então é complicado, não sabemos como vai ser o futuro.”

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Livreto que estava sendo entregue por um homem cristão, próximo à Marcha.
Foto: Davi Alves

Denis, apesar de concordar com Heloiza, acredita que a marcha também pode ter um impacto positivo. “Eu vi pessoas se esbarrando, tropeçando, e todo mundo pedindo desculpas, licença, super educados. Ou seja, agindo como humanos devem agir”, diz. “Isso tem que servir de exemplo: olhar todas essas pessoas aqui, que são vistas como pessoas que acreditam em coisas ruins, que fazem o mal para outras, dando esse exemplo de civilidade, de humanidade, de como se trata outra pessoa.”

Com essa tratativa amena, a marcha seguiu pela avenida de uma maneira distinta. Entrelaçando os braços, o público se dividiu em duas correntes, deixando um vão livre, por onde passavam as figuras das divindades, imagem que representa perfeitamente uma fala de Silvio e a mensagem principal do movimento.

“Juntar todo mundo e ser uma união porque só tem um criador e nós somos todos filhos dele. Então, temos que nos unir para acabar com toda a intolerância.”

Fonte: Cásper Líbero.

Autores: Davi Alves e Tiffany Maria.