Venezuelana busca no artesanato uma forma de gerar renda e manter tradições

Alcançada pelo programa Moverse, Alida busca unir esforços com outras mulheres da etnia indígena Warao para ampliar capacidade empreendedora em Roraima.

Impulsionada pelo aprendizado. Assim é possível descrever a história de Alida, indígena do povo Warao. Aos 49 anos, três deles vivendo no Brasil, a venezuelana busca se integrar a uma realidade diversa, e muitas vezes adversa, sem deixar que elementos da sua cultura sejam apagados. Filha de cacique e formada em Pedagogia, ela une esforços com outras mulheres para que o artesanato Warao seja valorizado, cultural e financeiramente – e, assim, garantir a renda de dezenas de pessoas em Roraima.

Em 2019, mesmo ano em que Alida ingressou no Brasil, dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) mostravam que mais de 2,5 mil indígenas vieram da Venezuela em busca de proteção, sendo 1.298 mulheres. Significativa parte dessa população encontra na produção e venda de artesanato o principal meio de gerar renda. Porém, a baixa valorização dos produtos e a falta de matéria-prima têm exigido das artesãs criatividade e resiliência.

Ainda pequena, Alida aprendeu a trançar a fibra do buriti, uma palmeira que é considerada sagrada pelo povo Warao. Passada de geração em geração, a arte é transformada em cestos, caixas, carteiras e todo tipo de objeto. Apesar da matéria-prima ser abundante na região, no Brasil é necessária a autorização ambiental para extração. Nos primeiros meses, Alida esperava a vinda de alguma pessoa conhecida da Venezuela que pudesse trazer a fibra para seu trabalho. A necessidade, porém, fez com que ela começasse a buscar em outros materiais a matéria-prima para seus produtos. Atualmente, ela desenvolve peças com miçangas e linha e, com o apoio do marido, também produz artesanato de barro. A comercialização dos produtos, porém, ainda é pequena para manter o sustento diário de sua família.

“Precisamos ter força para levantar do zero e começar no Brasil. Não quero perder meus costumes, como a cultura do artesanato, porque isso é passado de geração para geração e eu não quero perder, mas é muito difícil já que muitas outras pessoas também trabalham com isso”, reflete Alida.  Hoje ela complementa a renda com serviços de jardinagem e de faxina realizados esporadicamente. Na comunidade onde vive, próximo a Boa Vista, as famílias também mantêm uma pequena área onde cultivam para subsistência itens como mandioca, milho e cana-de-açúcar.

Na comunidade onde vivem 8 famílias, o plantio de alimentos ajuda a complementar as refeições. ©UNFPA Brasil/Isabela Martel

Desde que chegou ao Brasil, Alida tem participado de cursos de capacitação para vendas e empreendedorismo, oferecidos pelo ACNUR, ONU Mulheres e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo. Foi nessas capacitações que ela aprendeu noções básicas de vendas pelas redes sociais, com produção de fotos e vídeos. Mas ela reconhece que é preciso mais. “Tenho vontade de fazer um curso para entender melhor como precificar os produtos, pois os custos de uma venda feita pela internet são diferentes do valor de um produto que levo para uma feira”, explica.

O desejo agora é de formalizar os negócios, ter um computador para divulgar os produtos e conseguir organizar mais mulheres para, juntas, atenderem a pedidos por peças de artesanato. Alida e o marido também pretendem se registrar como microempreendedores individuais. Mesmo distante da capital, Alida permanece em contato com outras mulheres empreendedoras que moram em Boa Vista para trocar informações sobre futuras oportunidades de negócios.

Fonte: ACNUR/ONU.