‘Shuk’ é uma experiência do Oriente Médio que não perde o jeitinho brasileiro

Restaurante é recente e serve “comida de rua” que agrada mesmo aqueles com o paladar mais seletivo.

De volta a Pinheiros, a Jornalismo Júnior visita o Shuk: falafel e kebabs, que oferece uma experiência gastronômica diversa e acolhedora. O restaurante, ao contrário da onda de estabelecimentos árabes que surgiram nos últimos anos, afirma se tratar de um local que serve comida de rua do Oriente Médio, abrangendo países de toda a região. 

A comida e as bebidas

O cardápio do Shuk é muito variado e permite que, ainda que não se conheça bem a culinária do Oriente Médio, se aproveite muito as variadas opções. Mauro Brosso, que comanda o restaurante ao lado de sua esposa e sócia, Suzana Goldfarb, atribuiu essa possibilidade ao fato de que ambos têm família vinda da região e de que Suzana já morou em Israel. Ainda que a culinária seja produzida com base em  pratos típicos, o público é brasileiro e tem um paladar diferente. Saber disso ajudou Mauro e Suzana na montagem do cardápio.

Nas bebidas, além de opções recorrentes como cerveja, vinhos, espumantes, refrigerantes e suco de uva, a categoria tem destaques tradicionais como as sodas de romã e tangerina (R$ 21 e 19), o jallab (R$ 19) e o kiro (R$17), feito de maracujá, gengibre e cúrcuma. 

Dentre essas opções, a Jornalismo Júnior escolheu as preferidas dos clientes: a soda de romã e o jallab. A soda de romã é como um refrigerante levemente adocicado com gosto característico de romã, e vem servido em um copo grande com folhinhas de alecrim para enfeitar. O valor é um pouco alto para uma bebida, mas a experiência de provar algo tão incomum faz com que o valor valha a pena. O jallab é um divisor de opiniões: é exatamente como degustar uma tâmara, mas em um grande copo enfeitado com gelo. A questão é que a bebida é bastante açucarada, ou, nas palavras de uma cliente da mesa ao lado, “quase uma sobremesa”, o que pode ser um problema para algumas pessoas. Vale ressaltar que o refresco é feito a base de xarope, uma invenção árabe.

Quanto à comida, a casa indica que se comece por uma das opções de mezze, que aparecem logo no topo do cardápio. Os mezze, conforme explicado por Mauro, são uma “refeição feita de pequenos e variados pratos que podem ou não anteceder um prato principal”, e são essencialmente feitos para se compartilhar. Provamos o trio de pastas, que é composto por homus, labneh, babaganush, dois pães pita em sua menor versão e três na maior (R$ 49 e 65, respectivamente). O homus é feito de grão de bico, o labneh é conhecido como coalhada seca ou iogurte grego (a depender da região) e trata-se de uma coalhada cujo soro já foi quase totalmente removido.  O babaganush é composto de berinjela grelhada e tahine, uma pasta de sementes de gergelim. 

O trio é surpreendente e delicioso, com destaque para o lindo empratamento que desperta o apetite logo de cara e compensa ser pedido pela qualidade e quantidade. Indicamos pedir pão pita adicional (R$ 5) para aproveitar todas as pastas em sua totalidade. 

Em seguida, na área de “especiais Shuk”, provamos o Shak Shuk (ou Shakshuka) que, segundo a descrição do cardápio, é um “prato do Magreb feito com molho de tomate e harissa, ovo orgânico, zhoug, sumac e coentro“. O prato é bastante picante e possivelmente não agrada a todos os gostos, devido ao harissa, pasta magrebina suave de pimentão vermelho e pimentas, do zhoug, tempero feito a base de pimenta malagueta e coentro e do sumac, uma especiaria extraída de uma planta chamada Rhus.

O Shak Shuk vem acompanhado de dois pães pita e custa 36 reais, podendo servir duas ou mais pessoas – desde que se peça pães extras. O valor é coerente com o prato, então, se estiver disposto a experimentar sabores mais picantes e menos convencionais, é uma excelente opção.

Entre os “Sanduíches de Rua”, provamos o Yalah Falafel (R$ 34), uma grande porção de um sanduíche de origem egípcia com falafel (bolinhos fritos de grão-de-bico), homus, salada, relish de repolho roxo, picles, berinjela empanada, harissa e molho tahine. O sanduíche, com uma variedade de molhos e temperos, é um frenesi encantador de sabores, que justifica a posição de carro-chefe da casa. 

Para finalizar, no campo das sobremesas, o Malabie é, segundo uma das atendentes, um dos preferidos do público. Trata-se de um manjar árabe de leite com compota de frutas e farofa de pistache. O sabor, diferente dos pratos salgados, não é novidade, e pode agradar muito aos fãs de manjar, mas não é muito característico e memorável como os demais pratos do restaurante. O pistache é o destaque dessa sobremesa e lhe dá crocância, mas a disposição da taça, com uma pequena flor em cima, também chama atenção pela delicadeza. 

Um espacinho para aprender um pouco de história

A primeira coisa que se percebe ao chegar no Shuk é a sua estética. Mauro e Suzana, para além de comandarem o restaurante, são designers, e o senso estético do ambiente e dos pratos é perceptível. O projeto arquitetônico, inspirado nos mercados árabes que dão nome ao restaurante, os Shuk, é assinado pelo estúdio de arquitetura Vértices, e mistura luzes neon, cartazes e uma aparência propositalmente degradada nas paredes. 

Nas redes sociais do Shuk é possível acompanhar, nos primeiros posts, a história do restaurante e as inspirações por trás dele. O Shuk nasceu como Yalah Falafel, na casa de Suzana e Mauro, e atendia apenas por delivery. O nome remete a uma expressão árabe usada para apressar alguém e é um trocadilho com o fato de o delivery funcionar de forma ágil.

Suzana conta que o conhecimento da comida do Oriente Médio veio por meio de sua família de origem judia, que tinha alguns membros em Israel. Ela morou no país durante alguns anos e provava constantemente das comidas tradicionais, as quais sentiu falta ao voltar para o Brasil. O amor que tinha pela culinária, compartilhado também por Mauro, fez nascer o Yalah. Em cerca de dois anos o Yalah evoluiu para o espaço físico e se tornou Shuk, que completou um ano em maio de 2023. 

Hospitalidade e o atendimento no Shuk

Passando pela comida, o ambiente e a história, ainda há espaço de destaque para o que transforma a experiência Shuk em um combo agradável: a atmosfera. Os atendentes são dos mais diversos perfis, mas tem a simpatia em comum. Mauro e Suzana acreditam que a hospitalidade é uma das características principais quando se fala em um ambiente atraente para o cliente, e que seus treinamentos vão além das formas de servir. Eles destacam que não instruem formas específicas de atendimento, o que faz com que esse processo não seja engessado, e sim, muito natural e confortável para os funcionários. 

Por todas essas razões, o Shuk é uma ótima experiência para amantes de comida árabe, para aqueles que querem dar uma primeira chance ou até mesmo uma segunda. O espaço, que fica na rua Ferreira de Araújo, número 385, no bairro Pinheiros, é Pet Friendly e abre de segunda a sexta das 12h às 15h30, de terça a sexta no horário noturno das 19h às 22h30, de sábado das 12h às 23h e de domingo das 12h às 22h. As reservas são feitas de segunda a sexta. Aos finais de semana, a entrada é por ordem de chegada. O horário das 12h às 14h é mais cheio e as filas podem ser um pouco longas. 

Autora: Nicolle Martins.

Fonte: Jornalismo Júnior/USP.