São Bernardo FC: a reestruturação do irmão do meio do Grande ABC

O São Bernardo, em conjunto com o grupo Magnum, busca o sucesso planejado desde 2020.

Qualquer morador do estado de São Paulo já ouviu falar do ABC Paulista: Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano. O último dos três irmãos já chegou a uma final de Libertadores, enquanto o primeiro foi campeão de Copa do Brasil. O do meio, o São Bernardo, ainda procura um reconhecimento no futebol.

O município nunca teve uma equipe na elite do futebol paulista, muito menos brasileiro. E foi com isso em mente que, em 20 de dezembro de 2004, o São Bernardo Futebol Clube é fundado. Diferentemente do modelo de gestão mais comum no futebol do Brasil, com a presença de conselheiros e mandatos presidenciais, o “Bernô” sempre foi um clube-empresa.

Com estádio pertencente à prefeitura e história ligada à situação política da cidade, o São Bernardo teve uma trajetória irregular desde a fundação. Entre acessos e rebaixamentos, teve o primeiro auge entre 2013 e 2016, quando chegou à Série A1 do Campeonato Paulista, jogou a Copa do Brasil e participou da Série D do Campeonato Brasileiro.

Já em 2019, o clube quase foi rebaixado à Série A3 do Campeoanto Paulista, perdeu o estádio e deixou de disputar a Copa Paulista por dificuldades financeiras. Diante dos problemas, o São Bernardo conseguiu encontrar uma solução: vender o clube. O time conseguiu um comprador, que assumiu as reponsabilidades administrativas em 2020: o empresário Roberto Graziano, dono do Grupo Magnum.

BERNÔ E MAGNUM

Hoje, Graziano cuida da parte administrativa e financeira junto ao CEO do São Bernardo, Lucas Andrino. “Organiza tudo, está sempre no clube, participa e viaja com o grupo de jogadores. É um cara que ajudou muito na história do São Bernardo”, diz Rodrigo Souza, volante e capitão do “Bernô”, sobre a importância de Andrino na evolução do time.

“O Roberto também está em todos os jogos e reuniões que acontecem com o grupo. É uma engrangem que funciona bem”, completa Daniel Flumignan, gerente de futebol do São Bernardo.

Após a compra, o clube foi campeão de Série A2 do Paulistão e da Copa Paulista 2021, além de ser semifinalista da Série D do Campeonato Brasileiro de 2022.

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O time conseguiu um comprador, que assumiu as reponsabilidades administrativas em 2020. O empresário Roberto Graziano, dono do Grupo Magnum.
Foto: Rodrigo Dod/São Bernardo FC

Em 2023, a equipe teve a segunda melhor campanha da primeira fase do Campeonato Paulista, atrás somente do Palmeiras. Neste ano, já foi campeão da Taça Independência, mas perdeu, em jogo realizado em 8 de outubro, a chance do voltar à Série B do Campeonato Brasileiro de 2024. “O programado era estar na Série B em 2025. Agora, temos a oportunidade de antecipar o cenário esportivo do clube em um ano. Isso é muito importante”, comenta Flumignan.

SÃO BERNARDO EM ATIBAIA?

A Magnum assume o clube em um momento de turbulência com a gestão pública da cidade. O São Bernardo ficou impossibilitado de usar as instalações do estádio no final de 2019. Sem poder treinar em “casa”, o clube procurou alternativas, passou um curto período em Sorocaba por conta da pré-temporada de 2020 e depois partiu para o CT (centro de treinamento) do ex-jogador Marcelinho Carioca, em Atibaia. A viagem que já virou rotina, é a forma que o “Bernô” encontrou de ter estrutura em paralelo com a logística.

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Em 2022, a Magnum conseguiu a concessão e o clube está autorizado a fazer reformas e melhorias no antigo Vila Euclides – o Estádio 1º de Maio, pelo menos até 2032, com possibilidade de prorrogação até 2037.
Foto: Rodrigo Dod/São Bernardo FC

“Brincamos que todo jogo é uma grande viagem. Logicamente, não é o ideal, mas o clube tem tido sucesso dentro dessa estrutura”, comenta o gerente de futebol do São Bernardo. A operação não é barata e afeta o físico dos atletas. Por conta disso, Graziano comprou um terreno no município de São Bernardo, onde construirá um CT para a equipe. No entanto, não há previsão de quando a obra se iniciará.

Já o estádio voltou a pertencer ao São Bernardo. Em 2022, a Magnum conseguiu a concessão e o clube está autorizado a fazer reformas e melhorias no antigo Vila Euclides – o Estádio 1º de Maio, pelo menos até 2032, com possibilidade de prorrogação até 2037.

CONTINUIDADE COMO LEMA

“Entendemos que ciclos começam e terminam, mas buscamos a continuidade e a menor taxa de rotatividade dentro do elenco é um caminho positivo para conquistar resultados esportivos. Isso me enche de orgulho dentro do clube”, reforça Flumignan, sobre o ingrediente secreto do São Bernardo.

É claro que não é possível manter todos os jogadores. Somente neste ano, a equipe perdeu peças importantes. Chrystian Barletta, revelação do Paulistão 2023, foi para o Corinthians após o fim do estadual. Léo Jabá, um dos destaques ofensivos da equipe, deixou o clube rumo ao futebol português. Além deles, os zagueiros Romércio e Rafael Vaz, e o atacante Matheus Régis foram jogar a Série B do Campeonato Brasileiro.

“Quanto melhor o nível de competição, melhor a vitrine para o jogador. Aliado com a credibilidade que o clube adquiriu neste período, de cumprir com as suas demandas financeiras, isso eventualmente ecoa positivamente dentro do mercado. Ainda não é fácil atrair jogadores, mas ficamos atentos as possibilidades”, completa o gerente de futebol do São Bernardo.

A TORCIDA DO “BERNÔ” EM LUA DE MEL?

Apesar da derrota do domingo (8), é difícil não estar em lua de mel com o time. “A Magnum salvou o São Bernardo. Essa nova gestão fez o clube mudar de patamar. Hoje, disputa na segunda prateleira do futebol paulista e brasileiro”, comenta Caio Augusto torcedor do São Bernardo. “Se não fosse ela [Magnum], o time já estaria na Série A3 do Campeonato Paulista”, completa Lucas Eduardo outro torcedor do “Bernô”. Os garotos acompanham os jogos há mais de 10 anos e não pensam em abandonar o “Tigre”, ainda mais quando se está nas nuvens.

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Apesar da pouca torcida, os jogadores não enxergam clima ruim e valorizam quem está presente.
Foto: Rafael Assunção/São Bernardo FC

Apesar de possuir torcedores fiéis, o clube não consegue atrair muitas pessoas aos jogos. O São Bernardo teve uma das piores médias de público do Campeonato Paulista de 2023 (3.575), mesmo com uma campanha espetacular.

Na Série C do Campeonato Brasileiro, essa média caiu ainda mais. Em comparação com outras equipes, ele se mantém como o 11º mandante com maior público, os números absolutos caíram para 1.538 pessoas por jogo, de acordo com a FPF (Federação Paulista de Futebol) e CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Caio Augusto aborda que esse problema não foi resolvido pela Magnum e parece distante das mãos do grupo. “É algo que a Mangum está devendo, o estádio não tem enchido com frequência”. O torcedor completa que em outros momentos a prefeitura apoiava com parcerias e ajudava a encher o 1º de Maio: “A prefeitura apoiava com parcerias de empresas e escolinhas de futebol, ajudava a atrair público para o estádio”.

Apesar da pouca torcida, os jogadores não enxergam clima ruim e valorizam quem está presente. “Já passamos por momentos complicados e a torcida sempre apoiou”, comenta Rodrigo Souza, capitão da equipe. Buscando ter mais público nos últimos três jogos da temporada, a diretoria abriu mão da parte financeira e colocou entrada gratuita.

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“É o jogo mais importante da história do clube. Se a gente conseguir, vai ficar para a história”, diz o capitão do “Bernô”, Rodrigo Souza.
Foto: Gabriel Goto/São Bernardo FC

O ACESSO É LOGO ALI

O São Bernardo enfrentou o Operário-PR, no Estádio Germano Krüger, em Ponta Grossa (PR). Na primeira fase, na 16ª rodada, o Operário-PR venceu por 1 a 0. Já na estreia da segunda fase, o São Bernardo recebeu a equipe paranaense e venceu por 2 a 1.

Se tivesse vencido o Operário-PR novamente, o São Bernardo teria garantido o acesso à Série B do Campeonato Brasileiro do ano que vem. Se empatasse, precisava torcer para o São José-RS não vencer o Brusque, que já está classificado. O time gaúcho poderia até vencer, contanto que a diferença de gols fosse menor do que três. A derrota no Paraná significa a eliminação da competição e o fim do acesso, pelo menos na temporada de 2024.

“É o jogo mais importante da história do clube. Se a gente conseguir, vai ficar para a história”, disse o capitão do “Bernô”, Rodrigo Souza, antes do domingo passado.

Autor: Arthur Avelhanedo;

Fonte: Cásper Líbero.