Segundo cientista político, as redes sociais se tornaram um caminho menos custoso de interação entre os políticos e a sociedade, além de serem utilizadas como mecanismo de gerar reputação e confiança.
Ao contrário do esperado em um período de eleições, a coerência dos candidatos e as propostas apresentadas nem sempre são os principais fatores motivacionais na hora do voto. Com o alcance das redes sociais, muitos políticos estão aderindo a campanhas por meio de aplicativos, a exemplo do TikTok, onde criam conteúdos divertidos e vídeos bem-humorados a fim de aumentar o engajamento com o público jovem.
“Os vídeos bem-humorados são válidos, mas um ponto a se destacar é que a política é muito complexa para ser resumida de uma maneira superficial em vídeos curtos”, afirma o cientista político Cláudio André de Souza, professor da UCSAL (Universidade Católica do Salvador). “De uma maneira geral, o uso de redes sociais pelos políticos podem levar mais informação e ajudar no voto consciente. A própria engenharia institucional da política requer decisões que levam em consideração debates mais amplos”, completa.
É evidente que as campanhas eleitorais por meio das redes sociais compõem uma importante ferramenta na democratização da informação. No entanto, essa prática também abre espaço para a divulgação irresponsável de notícias falsas e desinformação, uma vez que a internet sofre com a falta de uma regulação mais concreta por parte dos órgãos responsáveis.
“Acho que os jovens, e a sociedade no geral, não estão preparados para enfrentar as fake news, sobretudo porque a base das informações falsas é exatamente buscar apresentar determinadas versões que coadunam com nossos aspectos e posições ideológicas” explica o cientista. “Entretanto, quanto mais tivermos um volume de informação e canais acessíveis, mais chances teremos de combater as Fake News, e, de alguma maneira, os jovens estão mais preparados porque já conseguem se inserir nesse mundo digital, o que pode facilitar o acesso a caminhos e à checagem de informações.”
DO TIKTOK PARA O LEGISLATIVO, E VICE-VERSA
Ademais, essa onda de engajamento virtual gerou novas oportunidades para aspirantes a políticos, como é o exemplo de Nikolas Ferreira. Atual vereador de Belo Horizonte, foi eleito deputado federal com o terceiro maior número de votos da história do país, e o maior dessa última eleição. Ferreira ganhou visibilidade pelo TikTok, onde acumula mais de três milhões de seguidores e, assim, iniciou sua carreira política em 2020. “Não sei se esse fenômeno será suficiente para que haja uma continuidade, ou seja, para que esses ‘políticos digitais’ consigam estabelecer mandatos, continuem tendo visibilidade e que isso gere uma carreira estável a médio prazo”, analisa Cláudio André. “Essa é uma forma que eu diria residual, porque ainda temos uma sociedade que olha para os políticos dentro de uma perspectiva de confiança”, complementa.
Em um ano em que a plataforma foi recheada de vídeos políticos, até figuras antigas e tradicionais da política brasileira se renderam ao TikTok. Candidatos como Guilherme Boulos, Eduardo Suplicy, Eduardo Cunha e o ex-presidente Lula investiram massivamente nas suas estratégias dentro da rede, com a divulgação de vídeos curtos e bem humorados para prender o possível eleitor. Porém, tais vídeos carecem de informações sobre as propostas e planos de governo, o que também acarreta em um empobrecimento do debate eleitoral dentro do aplicativo. Por parte dos usuários, tornou-se cada vez mais frequente a viralização de conteúdos relacionados a política, tanto de direita quanto de esquerda, e a criação de espaços para a discussão dessas ideias, como a hashtag #lefttok, criado pelos usuários de esquerda.
Autora: Maria Eduarda Orleans.
Fonte: Cásper Líbero.