‘Maestro’ conta a história de Leonard Bernstein de maneira emocionante

Filme aborda temas como orientação sexual, traição e amor.

Maestro (2023) é uma cinebiografia de Leonard Bernstein – maestro, pianista e compositor estadunidense que venceu 16 Grammys. O filme, ambientado na década de 1940, está cotado para concorrer ao Oscar. Ele foi dirigido por Bradley Cooper, ator protagonista do longa, e se enquadra em múltiplos gêneros cinematográficos, sendo eles musical, romance e drama. 

A trama se inicia com Leonard Bernstein dando uma entrevista e relembrando o início de sua carreira como maestro e como isso o levou a conhecer Felicia Montealegre (Carey Mulligan), mulher pela qual ele se apaixona pouco tempo depois de conhecer. De início, parecia que existia um romance entre ele e um rapaz, que vai por água abaixo após ele conhecer Felicia.

Leonard e Felicia quando estavam se apaixonando. [Imagem: Divulgação/Netflix]

O longa traz alguns questionamentos ao telespectador. Um deles é se o romance é real, pois é possível notar em algumas cenas que Leonard é homossexual, mas, mesmo com esse fato, ele se casa com Felicia, com quem tem três filhos. Leonard tinha uma boa relação com Felicia, ela o impulsionava a seguir seu sonho de ser compositor. Havia um companheirismo entre eles. 

Felicia era uma atriz que almejava crescer na carreira, o que se torna mais difícil após ter filhos e ter que dedicar sua vida ao esposo, a casa e às crianças – típico da década de 1940. Esse fato se torna um incômodo para ela, que já percebia dificuldades de crescimento pessoal por ser mulher antes mesmo de se tornar dona de casa. Ela deixa claro essa problemática ao incentivar Leonard a ir atrás dos seus objetivos, quando expõe que não consegue fazer o mesmo sendo mulher. 

Essa cena é muito importante para retratar os impasses que existiam na vida de uma mulher que queria criar carreira, em uma época tão preconceituosa e limitada sobre o espaço que uma mulher poderia almejar e chegar. Além disso, o fato de Felicia sentir falta de sua carreira quando se torna dona de casa é mostra a invisibilidade social da mulher diante do que se torna sua única prioridade de vida – sua casa, filhos e marido. O filme aproveita a situação de Felicia, que ocorre com outras mulheres até os dias atuais, para provocar uma reflexão no espectador. 

Leonard trai Felicia com um homem jovem e o coloca dentro de casa, como parte do vínculo familiar. Seu amante passa finais de semana dentro de casa, diante de sua esposa, o que gera crises entre o casal, que começa a ter brigas. Felicia sabe da sexualidade de Leonard, mas sente ciúmes. Essas cenas demonstram como o preconceito social pode acabar com vidas, e não somente com as de quem sofre o preconceito. Leonard pensou em se assumir, mas não o fez, porque sabia que sua carreira e seu prestígio estariam ameaçados. Então, ele faz com que sua família aceite seus casos. Felicia só tem a opção de aceitar e representar uma família, que não é real. Ela se sente sozinha e trocada, pois deu sua vida para se dedicar aos seus filhos e ao seu marido, deixando sua carreira num isolamento, mas aceita os casos do esposo. 

Leonard e seu amante, Tommy (Gideon Glick). [Imagem: Divulgação/Netflix]

O filme aborda uma época em que homossexuais e mulheres tinham pouco controle sobre as decisões de sua vida, pois tinham medo do que certas escolhas poderiam acarretar na carreira e na vida pessoal. Logo, temos muitas críticas sociais em evidência, de um período da história da humanidade que ainda se faz presente em certos momentos. Temos uma mulher que dedicou sua vida ao lar, mas que queria ter construído uma carreira grandiosa. Ao mesmo tempo, temos um homem que se realizou em sua carreira profissional, mas que não podia ser quem era, amar quem queria e não podia tomar as rédeas de sua vida pessoal. 

Embora existam muitos motivos para mostrar que o casamento foi um fracasso e que ambos perderam tempo, em uma tentativa frustrada de construir suas vidas em volta da felicidade, o filme consegue surpreender no final. É no fim que percebemos que eles se amam de verdade e que amor não está necessariamente atrelado ao desejo sexual – é um amor independente de rótulos. Eles possuem um amor genuíno, em que existe companheirismo, parceria e presença. O filme traz uma reflexão e um conceito sobre o que é amar. 

Felicia e Leonard juntos novamente na velhice após as crises no casamento. [Imagem: Divulgação/Netflix]

A atriz Carey Mulligan, que interpreta Felicia Montealegre, tem uma atuação impressionante, é o verdadeiro destaque da obra. O telespectador consegue se emocionar com sua atuação, que transporta para dentro do filme. As cenas de Felicia trazem uma dramaticidade incrível. Além disso, a obra é dividida em cenas do passado e dos dias atuais, através de cores. Cenas que se passam na década de 1940 são em preto e branco, o que foi de uma genialidade impressionante, pois o telespectador consegue adentrar a história, como se fizesse parte da época, e consegue notar a diferenciação dos períodos.  

O filme traz a perspectiva de Leonard e os seus receios em torno da sua sexualidade, das dificuldades em se assumir, da culpa que parece carregar por trair Felicia e por amar do jeito que ama. Possui muito drama, muito romance e muita reflexão sobre a sociedade. 

O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:

https://youtube.com/watch?v=1AYIC4e9lZg%3Ffeature%3Doembed

Autora: Tainá Rodrigues.

Fonte: Jornalismo Júnior/USP.