‘Horizonte’: filme nacional para quem acredita que nunca é tarde para amar

Com mais de 70 anos, Ruy se encontra em um ambiente familiar conturbado. Ele mal podia imaginar que diante dessa solidão acharia seu primeiro amor.

Horizonte (2024) traz como premissa uma história de amor entre dois idosos, e realmente cumpre seu papel, entregando um enredo com vizinhos que se apaixonam no final de suas vidas. O filme, no entanto, vai muito além de uma obra romântica, e traz ao público reflexões sobre solidão e envelhecimento.

Estreado no dia 15 de fevereiro, o longa-metragem já foi destaque em premiações internacionais e venceu em quatro categorias no Festival de Vassouras 2023, entre eles, Melhor Filme e Melhor Direção.

Dostoievski Champangnatte, roteirista de Fala sério, Mãe! (2017) e Rogéria, Senhor Astolfo Barroso (2018) mora em Aparecida de Goiânia e mantém uma produtora audiovisual local. Ele teve a ideia de fazer uma obra a partir da percepção de como sua cidade oferecia cuidados para os idosos e escreveu a história desse filme.

Com a produção e toda a parte técnica de cenários e figurinos elaborados na cidade goiana, a direção de Rafael Calomeni ambientou muito bem todo ar de interior brasileiro. O ritmo do filme pode ser um pouco lento e as situações às vezes monótonas, mas ao mesmo tempo isso ajuda a experienciar a velhice dos personagens, uma vida pouco agitada e a sensação de ser coadjuvante na vida de parentes mais novos.

Início de uma história

O filme inicia com um falecimento, Ruy (Raymundo de Souza) acabou de perder seu irmão e tem que lidar com questões relacionadas à herança. Seu sobrinho Juarez (Ronan Horta), que havia deixado Aparecida de Goiânia após um grande desentendimento com o pai, volta para a cidade natal com sua mulher e filha e ocupa a propriedade a qual agora tem direito a um terço.

A residência que até então era habitada por Ruy, seu irmão e seu sobrinho neto, filho negligenciado de Juárez, fica pequena demais para os membros da família que não sabem conviver pacificamente.

Alexandra Richter e Ronan Horta atuam como o casal que se muda para a casa do falecido em Aparecida de Goiânia.
Alexandra Richter e Ronan Horta atuam como o casal que se muda para a casa do falecido em Aparecida de Goiânia. Ela ganhou o prêmio de Melhor atriz coadjuvante no Festival Vassouras. [Imagem: Divulgação/A2 Filmes]

A casa se torna uma ambiente de tensão, com Ruy confinado em um barracão no quintal da casa e dividindo espaço com seu sobrinho neto, o ressentimento e a sensação de ser um estranho dentro do próprio lar começam a prevalecer. Após um episódio no qual Juarez e agregados invadem sua privacidade em prol de manter as aparências de uma família feliz, o senhor de idade decide que aquela é sua deixa para conseguir escapar do ambiente sufocante.

O protagonista então escuta em seu fiel rádio o anúncio de uma vila de moradias para pessoas da terceira idade em situação de carência, e então enxerga isso como sua solução. A mudança de cenário é um pouco abrupta, e as personagens que até então estavam como núcleo principal da história, ficam esquecidas, servindo apenas como apresentação do contexto de Ruy.

Romance no Horizonte

Ruy se torna o primeiro residente do condomínio Horizonte de moradia para idosos, e aprecia a novidade de uma casa própria e tranquilidade. A nova realidade é tão serena que a ausência de uma companhia o começa a incomodar, mas a solidão não dura muito tempo.

O homem logo percebe que tem alguém morando na casa de frente, tenta entrar em contato, bater na porta, oferecer comida, mas suas tentativas são em vão. Em circunstâncias inesperadas conhece Jandira (Ana Rosa), uma senhora de gênio forte que não quer saber de muita conversa e desejava manter-se longe de todos.

Jandira tem forte ligação com a canção a qual Ruy canta, mas por um bom tempo se recusa a ter interações além de escutar a música. [Imagem: Reprodução/YouTube/Fãs de Cinema]

É através de muita persistência de Ruy e serenatas de Boneca cobiçada (1999) na calçada à luz do luar que ele a conquista aos poucos. Então o público pode acompanhar o processo de se apaixonar e criar intimidade com alguém no estágio tardio da vida.

Quando pessoas com tantos anos já vividos se envolvem, existem muitas coisas que já aconteceram e o parceiro não está ciente, descobertas podem trazer reviravoltas no relacionamento. Horizonte apresenta uma temática inusitada e sensível que causa identificação aos espectadores em relação aos seus entes queridos mais velhos, e toca o coração dos românticos que acreditam que não existe fase certa da vida para começar a amar.

Confira o trailer:

https://youtube.com/watch?v=xySRdrPr_sU%3Ffeature%3Doembed

Autora: Isabella Gargano.

Fonte: Jornalismo Júnior/USP.