Considerado um dos edifícios mais importantes de São Paulo, o Paulicéia carrega uma longa história de quebra de paradigmas e ainda hoje desperta admiração.
Construído entre 1956 e 1959, localizado no número 970 da Avenida Paulista e recentemente tombado, o Edifício Paulicéia representa um marco na arquitetura moderna brasileira. Isso se dá pelo rompimento que o prédio traz em relação aos padrões estéticos da época e por simbolizar um período de transição na paisagem paulistana, até então habituada com os característicos casarões dos barões cafeeiros.
Antes do edifício, nesse ponto da Paulista havia um casarão projetado pelo arquiteto Augusto Fried e construído pelo empresário dinamarquês Adam Ditrik von Bülow. Por muito tempo, este palacete foi o local mais elevado da avenida, sendo muito utilizado por fotógrafos, como o célebre Guilherme Gaensly.
Palacete Von Bülow. Foto: Guilherme Gaensly
Avenida Paulista no começo do século XX com seus palacetes em direção à Consolação. Foto: Guilherme Gaensly
Rompendo com os casarões, o Edifício Pauliceia, símbolo da arquitetura moderna, foi um dos primeiros prédios residenciais construídos no período, colocando-se como um ponto de contraste na época em relação à paisagem do restante da Avenida. Ele foi projetado pelos arquitetos Jacques Pilon e Gian Carlo Gasperini e constitui parte de um conjunto com dois edifícios com frente para a Avenida Paulista e a Rua São Carlos do Pinhal, sendo o Paulicéia o prédio que possui frente para a Avenida. As torres têm 23 andares e possuem 240 apartamentos.
Além do prédio em si, que já era uma grande novidade para a época, também devem ser levadas em consideração algumas outras características da construção que representam elementos de inovação, como as fachadas envidraçadas, as persianas de madeira envernizada e os revestimentos de pastilha e de ladrilho português. Toda essa estética era uma grande novidade para a arquitetura do Brasil da década de 1950.
O objetivo, na época, era desenvolver um condomínio de padrão elevado para a elite. Por conta disso, o Edifício Pauliceia foi construído com a altura máxima permitida na época. Visando esse objetivo, foram projetados acessos privativos para os apartamentos e uma passagem de circulação de serviço distinta.
Em 2004, os dois edifícios do conjunto tentaram um pedido de tombamento, que não foi bem-sucedido. O tombamento foi reconsiderado em 2008 e aceito em 2010, pela Secretaria Cultural CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico. A justificativa está na manutenção dos lugares de memória da metropolização da cidade nos anos de 1950. No entanto, vale destacar que fica sob proteção apenas as áreas comuns, a fachada original e o projeto paisagístico dos jardins. Ou seja, o tombamento não atinge os apartamentos.
UM OLHAR ATUAL SOBRE O PAULICÉIA
O arquiteto Ricardo Abreu, 42 anos, ex-morador do Paulicéia, conta um pouco sobre a sua relação com o edifício.
“É um prédio fantástico, infelizmente eu já não moro mais nele. Passei bons anos morando no conjunto Paulicéia. Primeiro, morei no São Carlos do Pinhal, que é o prédio voltado para a rua de trás, e depois eu mudei para o Paulicéia, que é o virado para a Paulista. Acho que é um desejo de todo arquiteto que é fã do modernismo morar em um edifício modernista em São Paulo. São muitos exemplares de edifícios modernistas que temos na cidade, mas o Paulicéia é realmente especial”.
O arquiteto indica sua predileção pela estrutura do prédio, destacando que “os apartamentos todos têm pé direito alto, uma janela em fita que é outra característica primordial do modernismo”. Ricardo Abreu também ressalta o aspecto da fachada livre, que também faz parte da estética modernista.
“Como ele não tem estrutura na frente e os pilares são recuados, isso faz com que as esquadrias sejam imensas. Todos os ambientes têm janelas enormes que estão quase no nível do piso. Elas quase encostam no chão e no teto. Então, são esquadrias que tomam a fachada inteira, o que dá uma excelente luminosidade para dentro dos apartamentos”.
Quanto à questão da localização, na Avenida Paulista, Abreu aponta que existem pontos positivos e negativos, mas acredita que as vantagens que sobressaem. Segundo ele, o lado bom está na facilidade de acesso pelo metrô e na proximidade com inúmeros serviços, como farmácias, shoppings, bancos, correios, lojas etc.
Enquanto isso, segundo o arquiteto, o lado ruim está na questão da poluição sonora, ressaltando que “são manifestações todos os dias e todos os eventos da cidade passam pela Paulista. Aquela região também concentra um grande número de hospitais, então é um número muito grande de ambulâncias durante a madrugada. Lá também é rota de ônibus, rota de moto, etc.”. Além disso, Ricardo Abreu afirma que as esquadrias não estão preparadas para esse barulho, pois são originais e o condomínio ainda não permite a realização da troca.
Contudo, ele indica que é possível resolver isso colocando uma esquadria interna, desde que ela não interfira na fachada do edifício. Em um balanço geral, o arquiteto pondera que “na televisão aparece um décimo do que acontece na Paulista, mas existem muito mais vantagens do que desvantagens”.
Abreu ainda cita o fato de ser fã da tendência artístico-cultural do prédio e uma das premissas do projeto, quando se tornou um dos profissionais a reformar o imóvel. Para ele, era primordial acentuar as características modernistas do apartamento:
“A gente descascou as estruturas para mostrar a robustez e a da dos pilares do prédio que são recuados da fachada”.
“No Paulicéia tem professores de arquitetura, tem arquitetos famosos. Morar lá é o desejo de muitos arquitetos”. O edifício não só desperta a curiosidade de muitos em relação à sua peculiaridade, mas também é o objeto de estudo de muitos curiosos. Um patrimônio histórico, pedaço do modernismo que, de fato, não tem como passar despercebido.
Autoras: Isabel Almeida, Laura Ragazzi e Paola Costa.
Fonte: Cásper Líbero.