Novo tipo de influenciadores surgiu no TikTok e tentam mostrar a realidade dos produtos, porém muitos ainda contribuem para a máquina do consumismo.
Você já comprou um produto que parecia perfeito e não era aquilo tudo que esperava? É esse sentimento de decepção que o novo movimento que surgiu no Tiktok, o deinfluencing, tenta evitar. Do inglês, o termo significa “desinfluenciar” e é exatamente o oposto do marketing que era mais comum nas redes sociais, os influenciadores, que se tornaram uma grande máquina de propaganda.
Mas, hoje os desinfluenciadores estão cada vez mais tomando força e mostrando que não, você não precisa de diversos produtos que nem mesmo se encaixam no seu estilo ou até mesmo mostrando que é hora de economizar seu dinheiro, por exemplo. O ato também se configura como uma forma de influenciar, mas em outra direção.
COMO FUNCIONA O DEINFLUENCIG
A criadora de conteúdo e planejadora de gastos Paige mostra em seus vídeos do TikTok o porquê da maior parte da população sentir a necessidade de comprar. Um dos motivos que ela cita é que as influenciadoras “vendem” os produtos como algo necessário, criando um senso de iniquidade e de “buraco” na sua vida caso você não o compre.
“Nós acabamos vendo a vida dessas outras pessoas que parecem absolutamente perfeitas e o primeiro lugar que nosso cérebro vai é ‘tá bom, se eu quero ser como ela eu preciso sair e comprar tudo que ela tem’”, diz Paige. Ela relembra que não é um sérum, suco verde ou bolsa que irá transformar um indivíduo em outro alguém.
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Dessa forma, ela mostra como o deinfluencing pode ser um aliado na sua vida, praticando o autoconhecimento e controle das suas finanças para não comprar coisas que talvez você possa se arrepender no futuro.
Os desinfluenciadores pretendem mostrar como é a realidade de cada produto aos consumidores, suas particularidades, custo-benefício e até mesmo seu desempenho a longo prazo.
Priscilla Rezende, conhecida como Blogueira Shame, começou a “desinfluenciar” em 2010 quando criou o blog “Shame on You, blogueira”. A farmacêutica e desinfluencer conta que ao conviver com outras blogueiras começou a perceber que elas “‘maquiavam’ a opinião sobre um produto para não queimar a imagem da marca ou porque estavam recebendo para falarem bem”.
Na época, ela conta que pensou o quão errado era isso e iniciou sua jornada para contar a verdade dos bastidores, o lado B da coisa. Hoje, seus conteúdos que mais fazem sucesso são as indicações de médicos e review de hidratante de pele oleosa.
Por isso, ela descreve os desinfluenciadores como aqueles que vão te mostrar que “não se pode acreditar em tudo que seu influenciador do coração diz, porque na maioria das vezes a ‘dica de amiga’ é apenas uma publi não sinalizada”.
Kris Ruby, analista de mídia social e presidente do Ruby Media Group, diz que a tendência converge para o minimalismo e incentiva os consumidores a avaliar se precisam dos itens que as figuras das mídias sociais estão promovendo, em entrevista à CNN.
A hashtag #deinfluencing já possui 1 bilhão de visualizações no aplicativo de vídeos queridinho da geração Z e inúmeros vídeos de diferentes setores, como de moda, cosméticos, livros, eletrônicos e outros.
DESINFLUENCIAR NO TIKTOK
A força desse tipo de conteúdo é ainda mais significativa devido à plataforma em que ela se manifesta. O TikTok já alcançou a marca de 1 bilhão de usuários ativos por mês ao redor do mundo e seus vídeos conseguem se tornar virais e alcançar altas taxas de engajamento.
Mas será mesmo que as pessoas seguem as indicações que outros usuários deixam na plataforma? Segundo pesquisa da Opinion Box de 2023, mais da metade dos entrevistados conheceram produtos pelo TikTok, contudo, 36% já deixaram de comprar um produto ou contratar algum serviço por alguém falar mal dele na própria plataforma.
Priscilla comenta que os conteúdos como look do dia, unha do dia e “produtinhos que ama” continuam da mesma maneira, pouca coisa mudou. “É a enganação e os direitos do consumidor infligidos. O que mudou foi o alcance”.
Atualmente, a mídia social que chegou no Brasil em 2018 e se popularizou em 2020 é palco para diversas empresas divulgarem suas ações e políticas de negócios. Os usuários mostraram no estudo que gostam de acompanhar suas marcas favoritas e acham que os empreendimentos têm que ser ativos na plataforma.
A OUTRA FACE DO DEINFLUENCING
Mesmo assim, o deinfluencing pode não atingir seus verdadeiros objetivos, dependendo de como é feito. O que acontece é que, muitas vezes, depois da opinião negativa ou real de um produto, ou seja, o que não comprar, em seguida vem “o que comprar em vez disso”.
A lógica do consumo então volta ao início. O deinfluencing se torna uma tática para continuar a te influenciar a adquirir algo, a diferença é o caminho ser mais longo e talvez não tão claro a olho nu.
Quem fala mais sobre isso é a correspondente Rebecca Jennings, que cobre plataformas sociais e economia criativa para a revista Vox. Muitos criticam o sistema insustentável do capitalismo na superfície das compras, colocando as práticas individuais como culpadas.
Sabe-se que o sistema socioeconômico neoliberal quase sempre consegue se apropriar das próprias críticas a ele, dentro do mesmo sistema, e assim enfraquecê-las para convertê-las em mais uma mercadoria, como explica Mark Fisher em seu livro “realismo capitalista”. Com o deinfluencing não foi diferente.
Rebecca afirma que, no começo, a bem intencionada tendência foi interessante e “um raro vislumbre do que os vendedores profissionais de fato sentem e acreditam”. Muitas pessoas até comentavam suas experiências individuais em questões de saúde mental e financeira. Porém, “se tornou um discurso de vendas bastante engenhoso quando a hashtag pegou”, afirma.
Para a desinfluencer Priscilla, existem os dois tipos de desinfluenciadores: aquele que fala mal para vender outro produto e o que fala a verdade — o qual, segundo ela, ainda é minoria. Ela deixa seu repúdio ao primeiro tipo de desinfluencer, que necessita detonar outro produto para ter a deixa e fazer sua publi a outra marca.
Autora: Marien Ramos.
Fonte: Cásper Líbero.