Após 13 anos, apoio a refugiados sírios diminui e esperança se esvai lentamente

Zuhur está entre mais de 5 milhões de sírios que ainda vivem como refugiados 13 anos após o início da crise, mas o turbilhão econômico do Líbano e a diminuição do apoio humanitário a empurraram, assim como a outros, para o limite.

Quando Zuhur, 44 anos, fugiu para o Líbano com sua família no início da crise síria em 2011, ela pensou que seria apenas uma questão de dias até voltarem para casa.

“Eu carreguei meu filho mais novo, que acabara de nascer, e atravessei a fronteira com meus outros quatro filhos. Nem sequer empacotamos uma bolsa de pertences; realmente acreditávamos que não ficaríamos no Líbano por muito tempo”, lembrou Zuhur.

Mas à medida que os dias se transformaram em meses e depois em anos, o desejo de Zuhur por casa foi cada vez mais eclipsado pela luta diária pela sobrevivência. Treze anos após o início da crise, ela é uma das mais de 5 milhões de pessoas sírias que ainda vivem como refugiadas nos países vizinhos da região.

“Perdemos 13 anos de nossas vidas”, disse Zuhur.

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No Líbano, que abriga a maior parcela de refugiados per capita do mundo, uma crise econômica desastrosa que começou em 2019 causou miséria generalizada, incluindo para os mais de 780.000 refugiados sírios registrados. Os preços dos alimentos mais que triplicaram, enquanto o desemprego mais que dobrou, empurrando cerca de 80% dos libaneses para a pobreza.

Para as famílias libanesas e refugiadas sírias que já estavam lutando antes da crise econômica, os últimos cinco anos foram devastadores. Entre os sírios, os níveis de trabalho infantil, casamentos precoces e forçados e insegurança alimentar estão aumentando. Mais da metade dos refugiados vive em moradias precárias ou inseguras, e mais de um terço dos adultos relata limitar sua ingestão de alimentos para garantir que seus filhos sejam alimentados.

Como muitos refugiados sírios, Zuhur e sua família vivem em um assentamento informal de tendas que oferece pouca proteção contra as condições climáticas extremas que o norte do país enfrenta. “No inverno, as chuvas inundam as tendas, e tudo o que temos fica encharcado. Queimamos o que podemos neste fogão para nos mantermos aquecidos, como sacolas plásticas, sapatos e garrafas”.

Zuhur – que trabalhou como enfermeira na Síria depois de concluir sua educação – culpa a fuligem liberada pela queima de resíduos pelo agravamento da asma de sua filha. Seu conhecimento médico tem sido útil ao longo dos últimos 13 anos, permitindo que ela cuide de sua família e de muitos amigos e vizinhos.

“Eu cuido de quem precisa de ajuda ao meu redor, mas há algumas feridas que você não pode curar”, explicou.

O marido de Zuhur tem uma deficiência que o impede de trabalhar, deixando a família inteiramente dependente da assistência financeira que recebem da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), e do pouco dinheiro que seus filhos ganham com trabalhos braçais, como a coleta de materiais recicláveis. Mesmo assim, enfrentam uma luta constante para cobrir o aumento dos custos de alimentos, combustível e aluguel.

Ex-enfermeira, Zuhur pendura roupas do lado de fora do abrigo que ocupa com seu marido e filhos. ©ACNUR/Houssam Hariri

Essas dificuldades se tornaram uma realidade para muitos dos mais de 5 milhões de refugiados sírios na região. Seu sofrimento é agravado pelo fato de que, enquanto as necessidades humanitárias estão alcançando níveis sem precedentes devido aos choques econômicos e ao deslocamento prolongado, o financiamento internacional para o plano regional para atender às necessidades dos refugiados mais vulneráveis e suas comunidades anfitriãs diminuiu para menos de 40%. Isso forçou o ACNUR e outros parceiros a tomar decisões angustiantes sobre como priorizar os recursos limitados.

De longe, a coisa mais difícil para Zuhur nos últimos 13 anos, no entanto, tem sido ver seus filhos crescerem sem a educação de que ela mesma desfrutou.

“Meu filho recolhe plástico da beira da estrada para sobreviver. Ele mal consegue ler ou escrever”, explicou. Meus filhos enfrentaram muita discriminação na escola. Ele não podia aprender nada. Isso parte meu coração porque sou educada. As distâncias também são um fator, não enviarei minha filha para a escola se isso significar que ela terá que caminhar uma hora para chegar lá. Eu temo por sua segurança”.

Como resultado, Zuhur teve que fazer escolhas difíceis para fazer o que ela sente ser melhor para sua família. Um de seus filhos, Khaled, estava considerando ofertas feitas por contrabandistas para tentar a perigosa jornada marítima para a Europa em busca de um futuro melhor. Desesperada para salvá-lo de uma jornada tão arriscada, para dissuadi-lo, sua mãe arranjou um casamento para ele pouco antes de seu 18º aniversário.

“Considero-me consciente desses assuntos, e entendo que o casamento precoce não é favorável e até errado, mas tive que arranjar o casamento do meu filho para desviar sua atenção do barco”, explicou.

“Eu não quero perdê-lo. Às vezes, uma tenda é mais segura do que o sonho de uma casa”, concluiu.

“O que importa para mim é manter minha família unida. Mesmo que isso signifique casamento; farei o que for preciso para nos manter juntos”.

Fonte: ACNUR/ONU.