Anos 80 voltam às paradas de sucesso por meio de trends do Tiktok e playlists no Spotify. Por que hits nostálgicos conquistam novas gerações?
Recentemente, a música Running Up That Hill (A Deal with God), lançada em 1985 pela cantora Kate Bush, entrou para o topo da Billboard Hot 100, ranking de referência para a popularidade de canções. O hit embarcou na moda lançada por uma das séries mais famosas do momento: Stranger Things, que estreou há pouco sua 4ª temporada, alçou os anos 80 como uma tendência do entretenimento.
O sucesso repentino da canção popularizou a música entre os jovens e trouxe nostalgia aos fãs de longa data de Kate Bush, superando até mesmo a visibilidade alcançada à época do lançamento. O hit ficou na quarta posição mundial da Billboard e, no Spotify, chegou ao nº 1 global. Não é a primeira vez, porém, que um clássico retorna após ser tema de uma série, filme ou mesmo com o poder da internet.
OS HITS RETORNAM
O que motivaria, afinal, resgatar sucessos antigos para uma nova geração? Em tese, a distância etária entre as gerações criaria gostos específicos em cada um dos públicos. Felipe Vassão, músico, compositor e produtor, identificou alguns fatores para o surgimento de tendências retrô e nostálgicas. Para Vassão, cada geração possui um gosto e um estilo musical que geram identificação desde a infância. Essas crianças, com o tempo, crescem e passam a reproduzir a estética que as marcou durante a juventude.
“Hoje, a gente está revivendo a música da Kate Bush, de 40 anos atrás, porque as pessoas que tomam as decisões também se sentem ligadas a sua infância e juventude”, explica o músico. Quando adultos, essas pessoas reproduzem os gostos e estéticas de seu tempo para uma nova geração. O gráfico a seguir ilustra o ciclo descrito pelo compositor:
CASOS DE REVIVAL
Músicas que voltam a fazer sucesso depois de décadas não são novidade. No longa “Curtindo a Vida Adoidado”, de 1986, uma cena clássica foi capaz de levar Twist And Shout, lançada em 1964 pelos Beatles, novamente para a Billboard Hot 100.
Fenômeno semelhante ocorreu com o sucesso do R&B dos anos 60, Stand by Me, de Ben E. King, que foi tema do filme Conta Comigo, nos anos 80. Na época do lançamento da canção, ela alcançou a 4ª posição no Hot 100; em 1986, após o filme, atingiu a 9ª posição.
Além da representação em filmes e séries, muitos cantores vivem essa nostalgia por meio das próprias composições. É o caso do cantor canadense The Weeknd: o álbum After Hours incorporou muitos elementos do estilo anos 80 nas canções. Future Nostalgia, da cantora britânica Dua Lipa, como sugere o próprio nome, trabalha um espírito de época retrô nas músicas.
Felipe destaca a continuidade dessa tendência: “Naturalmente, daqui 20 anos, vão resgatar Backstreet Boys. Essa ciclicidade de duas, três décadas vai sempre acontecer, principalmente na mídia, porque as pessoas que virão a manter os meios de comunicação ativos vão sempre trazer a sua bagagem.” Até lá, cabe aos apreciadores do entretenimento um trabalho de análise da miríade de traços que formam o espectro de uma obra artística.
Autora: Gianne Oliveira.
Fonte: Cásper Líbero.