Síndrome de Regressão de Idade: os chamados “adultos de chupeta” mobilizam a internet

Adultos na faixa de 20 a 30 anos de idade praticam a regressão para lidar com traumas e a vida de responsabilidade.

Age regression, ou regressão de idade é, para Freud, um mecanismo de defesa do ego, que causa a regressão, temporária ou a longo prazo, para estágios anteriores de desenvolvimento. Jovens com essa síndrome, com dificuldades em lidar com estímulos adultos, encontram conforto no uso de objetos infantis, como mamadeiras, fraldas, e brinquedos. A psicóloga Camila Custódio, de 43 anos, explica que a síndrome se trata de uma experiência psicológica em que adultos revisitam emoções e comportamentos típicos da infância, em busca de conforto e segurança emocional.

A regressão pode ocorrer tanto de forma voluntária quanto involuntária. Segundo o pai da psicanálise, Freud, quando as atitudes infantis surgem de maneira automática, muitas vezes a pessoa nem ao menos percebe tais atos. Já em casos em que as ações ocorrem por vontade própria, a situação está, geralmente, interligada a adultos que veem a infância como um espaço de conforto em meio a vida madura, um local de escape. Polêmico entre os especialistas, esta forma consciente de regressão pode ser utilizada como instrumento do processo terapêutico, para que lembranças de infância fossem acessadas. Entretanto, alguns profissionais da área são contrários à prática, por conta da falta de estudos sobre o método.

Durante a prática temporária de regressão, os regressores realizam ligações com pessoas conhecidas por meio de grupos de aplicativos de redes sociais, os caregivers, seus cuidadores. Em uma dessas ligações, coberta pela Letícia Simonato, para o TabUol, o regressor, de 19 anos, volta à idade de 1 a 3 anos. Laura Pini, que prefere ser chamado pelo pronome masculino, realiza suas regressões junto ao seu cuidador Rodrigo, e, durante a ligação, Laura se entretia com ursinhos de pelúcia, bonecas, e chocalhos. Enquanto isso, Rodrigo, de 18 anos, se comportava como um pai orgulhoso, rindo das palavras comidas, típicas de bebê, que Laura falava.

As causas para o início da regressão de idade são diversas e complexas, de acordo com a psicóloga. “Traumas, estresse crônico, dificuldades emocionais e falhas na construção da identidade são alguns dos gatilhos”, diz, sem excluir fatores genéticos e ambientais significativos para o desenvolvimento no indivíduo. A psicóloga Bruna Rodrigues, de 37 anos, analisa que geralmente existe uma ligação entre transtornos como ansiedade ou depressão, mas ressalta novamente a dificuldade em se estipular uma causa.

A manifestação de sintomas é percebida inicialmente em jovens adultos, próximos de seus 30 anos de idade, e pode ser descrita como um comportamento infantil, caracterizado pelo uso de objetos destinados a crianças, como mamadeiras e chupetas, descreve Bruna. E os empecilhos desse comportamento à vida adulta são significativos e diversos, abrangendo relações pessoais, profissionais, familiares, e de autonomia como um todo. A psicóloga Camila explica que essa resistência ao amadurecimento limita o desenvolvimento pessoal, “levando a dificuldades no enfrentamento de desafios adultos e impactando negativamente a qualidade de vida de quem sofre e se relaciona com ele”.

A regressão é muito confundida com a síndrome do Peter Pan, mas as duas síndromes apresentam algumas diferenças no comportamento. “Na síndrome do Peter Pan, a pessoa tem um sentimento de não se sentir adulto, uma vontade de permanecer em uma adolescência ou em uma idade que seja inferior aquela que ela apresenta naquele momento”, afirma Bruna Rodrigues. Diferentemente de adultos com regressão, os que apresentam a síndrome do Peter Pan não se identificam com os acessórios infantis como chupetas e fraldas, tendo em sua semelhança somente a recusa de sua idade atual.

Ao contrário do que muitos possam pensar, a síndrome não apresenta correlação com o espectro autista. Conforme a psicóloga Bruna explica, não existe uma causa neurológica ou biológica para a síndrome em si. É, segundo ela, “muito mais relacionada com uma questão psicológica e comportamental”.

Existe uma necessidade do paciente ser acompanhado de forma terapêutica, com a avaliação de uma equipe médica especialista, principalmente na área comportamental, para que seja possível decretar o melhor tratamento para cada caso e como essa abordagem deve ser realizada. O primeiro passo é a investigação de possíveis causas, seja de situações subjacentes, gatilhos ou eventos que foram cobertos na memória pelo trauma, para encontrar um tratamento que auxiliará o paciente.

Autores: Ana Carolina Rutkoski, Maria Eduarda Silva, Sofia Kansbock Bianco e Victória Abreu.

Fonte: Cásper Líbero.