Safi trabalha como mediador cultural no Aeroporto de Guarulhos, planeja voltar aos estudos e trabalhar com educação no país que o acolheu.
Foi graças ao visto humanitário que Nasratullah Safi, 21 anos, a mãe e duas irmãs, de 13 e 16 anos, saíram do Afeganistão e chegaram em segurança ao Brasil para reconstruir a vida em uma nova direção. Até setembro de 2023, o governo brasileiro autorizou 12.642 vistos humanitários para afegãos como eles, e 7.274 refugiados do país desembarcaram por aqui até junho de 2023. Você pode deixar uma mensagem de acolhimento para essas pessoas.
A família de Safi tinha uma vida confortável no Afeganistão até que o agravamento da crise humanitária os forçou a sair do país. O jovem cursava faculdade de engenharia, sendo o quarto membro da família a entrar numa universidade. “Meu pai era gerente de RH; meu irmão, dentista; e minha mãe, ativista e professora dos direitos das mulheres”, conta.
Com mudanças de poder, as irmãs dele foram proibidas de estudar e a mãe, impedida de trabalhar. Para além disso, continuar no país significava risco de vida. “A segurança era um problema para todas as pessoas, não só para quem trabalhava no governo anterior”, afirma.
Esperança para um novo caminho
Safi abandonou a faculdade para sair do país, mas não desistiu do sonho de estudar e planeja seguir carreira na área da educação no Brasil. Ver as irmãs retomarem os estudos, numa escola pública brasileira, é motivo de grande satisfação.
A família se surpreendeu positivamente com os cuidados que a irmã mais nova, que tem Síndrome de Down, recebeu no ambiente escolar. “Aqui a escola pública oferece acompanhamento individualizado de uma professora, além de auxílio para o transporte. Nós somos muito gratos por isso”, relata Safi.
O sorriso largo não o deixa esconder que o país de refúgio, por esse e tantos outros motivos, apesar de completamente diferente da cultura em que cresceu, o enche de esperança. “Eu gosto demais daqui! Especialmente das praias”, diz. A saudade é grande, mas o jovem não deseja voltar para o Afeganistão.
“Sinto falta especialmente de meus avós, tios e primos, meus amigos e colegas. Também da beleza do meu país, da minha cidade e da universidade. Se eu for parar para pensar, tudo me dá saudades. Mas sei que preciso ser forte e me firmar no meu propósito de estudar, construir uma carreira e um futuro possível para mim.”
Mediador cultural para outros refugiados
A disposição de Safi e o propósito de voltar a estudar foram catalisadores para a integração do jovem no Brasil. O Aeroporto Internacional de Guarulhos, primeiro lugar no país onde colocou os pés, se tornou seu local de trabalho.
Safi trabalha como mediador cultural no aeroporto e em abrigos, ajudando conterrâneos como intérprete e fonte de informações para documentação e integração. O emprego veio graças a um projeto da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo com financiamento do ACNUR, que contrata refugiados afegãos para essa missão.
Safi trabalha ajudando outros refugiados afegãos, sendo intérprete e dando orientações. Créditos: Diego Baravelli
O jovem está aprendendo português por meio de aulas na internet, além de ter participado de cursos e formações presenciais, tudo mirando o alvo de voltar a estudar, agora no Brasil. “Na vida, o que realmente importa é ter a oportunidade de construir um futuro mais próspero para poder ajudar outros seres humanos e garantir que as futuras gerações possam ter condições melhores de vida”, afirma.
“É muito difícil deixar sua casa e seus amigos para trás. Nós enfrentamos muitas dificuldades, mas, para poder ter uma chance de futuro, tivemos que assumir riscos e enfrentar novos desafios. Mas sei que aqui, no Brasil, teremos oportunidades para trabalhar e contribuir para a sociedade.”
Direitos básicos para reconstruir a vida
A família de Safi viveu no Irã por cinco meses antes de vir para o Brasil. Eles consideraram viver no país vizinho, mais próximo de suas origens, mas a falta de oportunidades e de direitos, além da esperança apresentada pelo visto humanitário brasileiro, os motivaram a seguir viagem.
Safi tem muitos sonhos e quer ser útil para a comunidade. Créditos: Diego Baravelli
“Vindo para cá, eu percebi que eu não pertenço ao Afeganistão. Meu lugar é no mundo inteiro, onde posso ser útil e ajudar outros seres humanos, independentemente de qualquer coisa. Sei que aqui eu posso continuar meus estudos e oferecer para a minha família um pouco mais de conforto.”
Safi afirma que não tem do que reclamar sobre o Brasil porque enxerga que, com direitos básicos, as pessoas podem construir tudo aquilo que desejarem. Ele reforça a importância da solidariedade e de oferecer oportunidades, especialmente de trabalho e educação, para seus conterrâneos. Já são mais de 7 mil refugiados afegãos que buscaram proteção no Brasil. Você pode ajudar refugiados afegãos no Brasil: doe agora!
Fonte: ACNUR.