O Museu da Língua Portuguesa comemora 18 anos em 2024.
Desde sua fundação até os dias atuais, o Museu da Língua Portuguesa se consolidou como um espaço dinâmico de contato e convivência entre diferentes realidades geográficas e socioculturais, explorando um ponto em comum entre elas: o nosso idioma.
Da construção da Estação da Luz à fundação do museu
O Museu da Língua Portuguesa se localiza próximo a Estação da Luz, na região central da maior cidade da América Latina, São Paulo. Seu projeto de criação teve início em 2002 e foi uma iniciativa da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e da Fundação Roberto Marinho. Após quatro anos de obras e planejamento, o museu foi oficialmente inaugurado em 2006 e contou com um investimento de aproximadamente 37 milhões de reais. Viabilizada pela parceria público-privada, a iniciativa também contou com o apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
A Estação da Luz, um dos principais terminais ferroviários do país, foi inaugurada em 1865. Em 1901, devido a necessidade de ampliar o espaço para atender o crescente número de cargas e passageiros, um novo prédio foi erguido no endereço que permanece até os dias atuais. A estação foi um dos principais pontos de passagem dos imigrantes que chegaram ao país e é um dos símbolos da riqueza paulista durante a República do café com leite.
“A vitalidade de uma língua é a vitalidade de um povo. Se os atos de fala e os atos de palavra podem ser ações, gerar movimentos e criar realidades, então faço aqui da minha palavra um voto: que este Museu amplifique e ressoe a voz da Língua Portuguesa no mundo.”
Gilberto Gil
Durante os primeiros dez anos de funcionamento, o Museu da Língua Portuguesa recebeu 3,9 milhões de visitantes, o que o caracterizou como um dos principais pontos turísticos da cidade de São Paulo. Nesse mesmo período, o museu contou com 30 exposições temporárias e recebeu 12 prêmios nacionais e internacionais. Em suas exposições, grandes artistas da língua portuguesa foram homenageados, como Clarice Lispector, Machado de Assis, Cora Coralina, Fernando Pessoa e Cazuza.
Uma mancha cinza na história
No dia 21 de dezembro de 2015, um incêndio atingiu o prédio do museu e destruiu parte da sua estrutura. O fogo teve início no primeiro andar, onde era exibida a exposição “O tempo e eu”, e foi causado por um curto-circuito. Para apagar o incêndio, foram necessárias 37 viaturas e 97 bombeiros. Enquanto tentava conter o fogo, o bombeiro civil e funcionário do museu, Ronaldo Ferreira da Cruz, morreu após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Na data da tragédia o local estava fechado ao público para manutenção interna.
Por ter como tema um patrimônio imaterial, a língua, o acervo do museu é, na maior parte ,digital, o que permitiu a sua recuperação através de backups. Os maiores prejuízos decorrentes do incêndio foram ao patrimônio arquitetônico do prédio, construído originalmente em 1867.
Enquanto o edifício estava sendo reconstruído, as atividades culturais do museu foram continuadas por meio de mostras itinerantes. As exposições, que mantiveram o conceito de interatividade, passaram por cidades do interior paulista como Araraquara e Pirassununga.
Após quase 6 anos fechado, o museu reabriu no dia 31 de julho de 2021, com transmissão ao vivo pelas redes sociais. Com as reformas, o prédio recebeu melhorias de infraestrutura e segurança, com novas medidas de prevenção a incêndios e de sustentabilidade.
A imersão na língua
A exposição do acervo é dividida em 3 andares e é feita em grande parte por meio de instalações interativas, que permitem o visitante mergulhar no mundo da língua portuguesa. Apesar de grande parte das experiências terem sido mantidas após a reabertura do museu, elas foram repensadas e reformuladas para melhor refletir a sociedade e as suas discussões
A mistura de tecnologia e conhecimento é elemento chave na sensação de pertencimento que o museu procura passar para os falantes da língua portuguesa. O primeiro piso é destinado às exposições temporárias.
Nos dois últimos andares está exposto o acervo permanente do museu. No segundo piso, o foco das exposições são as diferentes línguas que existem ao redor do mundo, principalmente as que possuem alguma relação com o Brasil – faladas por povos originários ou imigrantes-, e a influência delas para formação do português falado no Brasil.
O terceiro pavimento recebe o nome de “Língua viva” e aborda a diversidade da língua portuguesa nos diferentes contextos geográficos e sócio-culturais. Também nesse andar se encontra o auditório e um terraço, de onde é possível ver o centro de São Paulo e a torre do relógio da Estação da Luz.
Durante o passeio pelo museu, é possível encontrar pessoas que preferem a própria companhia na hora de admirar a cultura, mas há também grupos que se organizam para fazer visitas guiadas. É o caso da escola do Matheus, de 17 anos, que relata: “é um assunto muito interessante, é uma parte da cultura que nos formou, que está no que a gente fala e nem sabemos.”
“O passeio foi muito legal e tem muitas coisas que dá para brincar”, afirma Valentina, de nove anos, que também visitou o museu com os seus professores e colegas da escola. A mistura de interatividade, tecnologia e diversão permite que os públicos de diferentes idades façam uma viagem pelo tempo e pela cultura brasileira.
O Museu da Língua Portuguesa fica aberto ao público de terça a domingo, com entrada permitida das 9h às 16h30, podendo permanecer até as 18 horas. Os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente pela plataforma Sympla ou na própria bilheteria, e o valor inteiro é 24 reais. Nos sábados e domingos a entrada é gratuita.
*Imagem de capa: Louisa Harryman.
Autora: Louisa Coelho Harryman.
Fonte: Jornalismo Júnior/USP.