Trajetória no rock: como o Nirvana influenciou gerações

Vinda do rock alternativo, a banda conquistou o público de sua época e permanece viva nas memórias dos fãs.

Em abril de 2024, completou 30 anos desde a morte do vocalista, guitarrista e líder do Nirvana, Kurt Cobain. A banda de rock, que teve início em 1987, conquistou grande impacto em sua época, tornando-se referência no rock alternativo. Devido à ausência do cantor, o grupo encerrou suas atividades, porém o seu legado permanece entre diferentes gerações.

O Nirvana se formou na pequena cidade de Aberdeen, nos Estados Unidos, sendo constituído pelo vocalista e guitarrista Kurt Cobain, o baixista Krist Novoselic e o baterista Dave Grohl – que só entrou na banda em 1990. O nome faz referência a um conceito budista que trata sobre a libertação da dor, do sofrimento e do mundo externo.

Atrelada a um estilo de rock alternativo, o grunge, a banda foi contra a manifestação popular do rock da época, tanto em relação à vestimenta como às letras das músicas. Enquanto os anos 1980 eram marcados por um visual vinculado a cabelos, maquiagens e roupas chamativas, o Nirvana surgia com uma aparência mais despojada: calças largas, rasgadas e sujas, blusas flaneladas e gorros compunham o aspecto principal do grupo. Jota Wagner, repórter de cultura no Music Non Stop do UOL, comenta em entrevista à Jornalismo Júnior que o estilo alternativo do Nirvana atraiu a atenção do público, porque “quando um indivíduo age de maneira diferente das demais pessoas em um ambiente, ele tende a se destacar”.

Estilo e músicas

Nirvana posando para foto.
O Nirvana trazia um aspecto crítico e raivoso em suas letras [Imagem: Reprodução/Facebook/@nirvana]

Além do estilo visual do Nirvana, as próprias músicas da banda adotam um teor intenso e radical, principalmente ao trazer discussões a respeito de juventude, rebeldia, liberdade, críticas sociais e aspectos psicológicos. Por terem sido compostas por Kurt Cobain, as canções estão vinculadas à própria vida do cantor, de modo que nem sempre seus significados fiquem evidentes ou existam de fato. Ainda assim, muitas vezes, as músicas atingem um público que compartilha das experiências ou sensações manifestadas pela banda. Atenásia Brito Ferreira, fã do Nirvana desde 1991, comenta que o estilo das músicas atrai especialmente um público mais jovem, com cerca de 20 anos. As canções expressam os problemas vinculados a esse período de idade, trazendo comentários irônicos e críticos sobre a sociedade americana e o modo de vida local.

O primeiro álbum lançado foi o Bleach (1989), produzido pela gravadora independente Sub Pop, com um forte apelo ao estilo do grunge. Ele lançou o Nirvana no cenário do rock alternativo de Seattle, onde o gênero musical surgiu com intensidade. 

A princípio, o nome do disco era Too Many People (Muitas Pessoas). Mas Kurt mudou de ideia ao ver um cartaz de prevenção à AIDS, estimulando os usuários de heroína a desinfetar (bleach, em tradução) as agulhas antes de usá-las.

A produção do álbum também teve a participação de diferentes bateristas, já que Dave Grohl se juntou ao grupo apenas no ano seguinte ao seu lançamento. Dale Crover, do Melvins, participou de três músicas: Floyd the BarberPaper Cuts Downer. Posteriormente, Chad Channing assumiu  a posição de integrante do Nirvana por um período.

Até 1991, o disco conquistou 40.000 cópias, com um público mais vinculado a esse estilo de som. Ainda assim, ao longo dos anos, o álbum foi o mais vendido sob o selo da Sub Pop.

Foi apenas com o segundo álbum, Nevermind (1991), que a banda realmente obteve um grande sucesso. Lançado pela gravadora DGC, o clipe da música Smells Like Teen Spirit ainda teve passagem na MTV, uma das principais plataformas televisivas de divulgação de músicas e artistas. Com instrumentais mais fortes e energéticos do que o anterior, o álbum ainda apresenta um estilo vinculado ao pop, o que atraiu novos fãs. Considerado o trabalho de passagem do Nirvana do underground para o mainstream, o lançamento é o mais popular da banda. A própria capa se torna marcante ao gerar um debate em torno do possível significado da imagem, na qual um bebê é exposto nadando em direção a uma nota de dólar. 

Capa do álbum "Nevermind", com um bebê nadando e direção a uma nota de dólar.
Em 1992, Nevermind alcançou o primeiro lugar no chart da  Billboard 200, substituindo Dangerous, do Michael Jackson [Imagem: Reprodução/DGC Records]

Incesticide (1992) já foi construído como uma coletânea, contendo algumas músicas previamente lançadas, outras inéditas e apresentações do Nirvana em shows. Ele foi feito com a intenção de entregar um novo trabalho para os fãs naquele ano, de modo a saciar as exigências do mercado. 

Assim, o terceiro e último álbum oficial lançado, In Utero (1993), adota um aspecto mais crítico em relação ao sucesso alcançado com Nevermind. Apresentando letras mais íntimas, as músicas demonstram o cansaço pessoal de Kurt e o lado ruim da fama. A ideia inicial de título era I Hate Myself and I Want to Die (Eu Me Odeio e Quero Morrer), o que evidencia os sentimentos contemplados pelo trabalho.

Após a morte de Kurt Cobain e o fim definitivo da banda, ainda foi lançado o MTV Unplugged in New York (1994). Essa apresentação ficou bastante conhecida devido à atmosfera e à organização que foram desenvolvidas no palco. Contando com flores e velas espalhadas pelo local, o ambiente adotou um teor sombrio e de despedida.

Presença no palco e na memória

O aumento da popularidade do Nirvana, em especial após o lançamento de Nevermind, motivou cada vez mais pessoas a consumirem outros trabalhos da banda e de outros artistas do grunge. O  movimento passou a ganhar mais destaque nos anos 1990, o que fez o estilo se espalhar pelo mundo e trazer novas vozes como Pearl Jam e Alice in Chains. “O Nirvana foi só uma abertura. Porque passei a conhecer outras bandas do movimento grunge, do hard rock, bandas de Los Angeles que estavam surgindo”, comenta Atenásia sobre sua experiência de inserção na música por meio do grupo.

Não foram apenas as músicas e vestimentas que marcaram o estilo do Nirvana. A presença em performances também foi um fator que destacou a banda no cenário musical. Com um estilo livre e selvagem, o palco não servia de limites para os três integrantes entregarem o que desejavam. Jota Wagner fala que a banda influenciou as pessoas devido ao seu modo de “subir no palco, tocar alto e falar sobre o que os incomodava”, e não só por meio das músicas em si. Atenásia também relata que a maneira que os três agiam foi um fator que a fez se interessar pela banda: “As loucuras que você via no palco eram deles mesmo, e isso acabava chamando atenção”.

Nirvana tocando em show.
Shows da bandas eram conhecidos como intensos e caóticos [Imagem: Reprodução/Facebook/@nirvana]

Apesar das práticas não serem exclusivas do Nirvana, os shows da banda são famosos pela quebra de instrumentos e recepção de fãs no palco. As atitudes demonstram uma questão de busca de liberdade por meio das apresentações. “É que nem quebrar correntes. Parece que a gente tem correntes nos nossos pulsos, nas nossas pernas”, comenta Francisco Quinteiro, que se tornou fã entre 2009 e 2010 por influência do avô e toca instrumentos por inspiração do Nirvana. Ele ainda fala que às vezes também sente vontade de partir sua guitarra ao tocá-la.

O relato do jovem ainda demonstra a presença da banda viva entre os fãs. Muitos dos que acompanham o Nirvana desde o início transmitiram suas experiências e gostos musicais para seus familiares mais jovens. Assim, o legado da banda é passado entre novas gerações com um cunho de ligação familiar. Francisco compartilha suas lembranças ao ouvir Nirvana logo cedo na rádio e na televisão ao lado do avô quando mais novo.

O fim da banda, entretanto, não fez com que Dave Grohl e Krist Novoselic abandonassem suas carreiras. Ainda em 1994, Grohl formou o Foo Fighters. Inicialmente, a banda surgiu como um projeto solo, e recrutou novos integrantes depois. Hoje, o ex-baterista do Nirvana atua como vocalista, guitarrista e compositor. Já Novoselic participou em diferentes grupos ao longo dos anos e adotou o papel de ativista.

Autora: Ana Santos.

Fonte: Jornalismo Júnior/USP.