Menstruação: mitos e verdades

Especialistas esclarecem dúvidas sobre o ciclo menstrual.

Sangrar periodicamente faz parte da rotina de aproximadamente metade da população. Ainda assim, muitas declarações falaciosas são reproduzidas quando o tema é saúde íntima. Em entrevista à Jornalismo Júnior, médicas desmistificaram algumas questões importantes, separando os mitos das verdades.

Antes, é importante compreender o que significa, de fato, o ciclo menstrual e como ele geralmente funciona.

Desde a primeira menstruação até a menopausa, as pessoas com útero passam por consecutivos ciclos que pautam a vida reprodutiva. Quando um óvulo não é fecundado, o endométrio  — tecido que reveste o útero — descama e é expelido, liberando o chamado sangue menstrual. Assim, esse sangramento marca o início de um ciclo.

Durante a primeira fase, a folicular, ocorre o amadurecimento de um folículo: uma estrutura que abriga o óvulo. Cerca de 14 dias após a menstruação, começa a fase ovulatória, que culmina na liberação desse óvulo. Em seguida, inicia-se a etapa lútea, na qual o folículo rompido, ou corpo-lúteo, passa a preparar o endométrio para implantar o embrião. Mas, caso a fecundação não ocorra, o corpo-lúteo se degenera e o endométrio é excretado no sangue, recomeçando o ciclo.

Esquema de etapas do ciclo menstrual
Ações hormonais coordenam todas as fases do ciclo. [Imagem: Isometrik, alterações por Polyethylen /Wikimedia Commons]

Não existe risco de engravidar durante a menstruação

Mito. Ainda que seja mais difícil engravidar neste período, não é impossível. Considerando um ciclo normal, é improvável que isto aconteça, uma vez que a ovulação, caracterizada como período fértil, antecede a menstruação.

A ginecologista Luciene Barduco explica que, do ponto de vista ovariano, os níveis hormonais estão bem baixos quando a pessoa está menstruada. “Nesse período, idealmente nenhum óvulo está sendo liberado e o endométrio está descamando, o que dificultaria a implantação de qualquer embrião”. Mesmo assim, a médica diz que não é uma garantia.

Isso porque existem pessoas que têm um período de sangramento muito longo, sendo possível que ele se aproxime da próxima ovulação. Ou seja, é necessário prevenir-se, inclusive durante a menstruação.

Fluxo intenso pode causar anemia

Verdade. “Uma das maiores causas de anemia, nesses casos, é uma perda menstrual volumosa”, afirma Luciene. Como o sangue menstrual contém ferro, perdê-lo em grandes quantidades pode diminuir as reservas desse mineral no organismo. Com menos ferro, os glóbulos vermelhos não conseguem transportar oxigênio suficiente, o que resulta em um processo de anemia, ou seja, de menor produção de células sanguíneas. 

Ter um fluxo intenso não significa estar anêmica, mas alguns sintomas como cansaço, fraqueza, falta de fôlego e baixa concentração são alertas importantes. “Às vezes, a pessoa está tão acostumada a sangrar bastante que ela nem percebe que o volume é demasiado, por isso é importante consultar um médico e fazer um hemograma”, acrescenta a ginecologista.

Fazer sexo durante a menstruação aumenta o risco de transmissão de IST’s

Verdade. Existem diversas IST’s (Infecções Sexualmente Transmissíveis) que são adquiridas por meio do contato com o sangue, como HIV, hepatite B e C. “Se a pessoa tem o vírus de alguma dessas doenças, realizar atos sexuais menstruada aumenta consideravelmente o risco de transmiti-las”, explica Luciene. Entretanto, do ponto de vista médico, se a mulher estiver saudável, ela não transmitirá nada pelo sangue da menstruação ou por qualquer outro meio.

Fora esse risco, a ginecologista alerta que a prática sexual durante o período de sangramento também pode resultar em endometriose. Esta doença é uma inflamação nos órgãos pélvicos que ocorre quando as células do endométrio, em vez de serem expelidas na menstruação, vão para os ovários ou para a cavidade abdominal. De acordo com a especialista, durante a penetração, um pouco do sangue menstrual que contém fragmentos do endométrio volta para a cavidade uterina e as trompas, podendo acabar dentro da cavidade abdominal.

Cuidados com a saúde íntima
Consultar um profissional é essencial para manter a saúde íntima em dia. [Imagem: Atlascompany/ Freepik]

TPM não existe

Mito. Quem nunca experienciou a tensão pré-menstrual, ou TPM, pode até pensar que é frescura, mas há comprovação de sua ocorrência, sendo que a grande responsável é a progesterona, hormônio produzido após a ovulação. A ginecologista explica que a TPM engloba tanto sintomas físicos quanto aspectos afetivos. “Essa variação ocorre principalmente devido a fatores externos, como o nível de estresse basal, a qualidade da alimentação, do sono e dos hábitos de vida, que afetam a parte afetiva da menstruação”.

Cada corpo reage à progesterona de uma maneira. Agitação, irritabilidade, mudança de humor e instabilidade emocional são alguns dos indícios de uma TPM. Fernanda Gomes de Melo, endocrinologista, acrescenta que inchaço no corpo, mudança na operação do trato intestinal e outros sintomas psicológicos também podem ser identificados nesse período. Independente dos sintomas, eles devem aliviar depois que a menstruação acontece. Se a pessoa se mantém frustrada ou angustiada o mês inteiro, por exemplo, é necessário consultar um médico para avaliar as causas dessas mudanças.

Ter bastante cólica menstrual é normal

Mito. Dores abdominais e um pouco de desconforto são sensações esperadas no início da fase folicular, devido a liberação de uma substância que faz o útero contrair para eliminar o endométrio. Porém, “é necessário que essa dor seja aliviada com a ingestão de um medicamento como ibuprofeno ou buscopan”, declara a endocrinologista. 

Pessoas que sofrem muito de cólica, o que pode incluir vômitos, desmaios e não conseguir sair da cama, precisam procurar um ginecologista, pois é possível que sejam sintomas de endometriose. Essa doença tem sido cada vez mais frequente, principalmente entre jovens, mas as pessoas ainda demoram para suspeitar dela, acreditando ser parte natural do ciclo. “É uma pena, a maioria das pacientes que eu vejo sofreram por muito tempo até receber o diagnóstico”, acrescenta Fernanda.

O período pré menstrual favorece o aparecimento de acne

Verdade. Muitas pessoas notam um aumento de espinhas durante a TPM e essa mudança está relacionada à variação dos hormônios durante o ciclo. “Nesse momento, há uma produção maior de androgênios, que são hormônios sexuais masculinos que estimulam o funcionamento das glândulas sebáceas”, explica a endocrinologista. 

Tais glândulas, presentes em abundância no couro cabeludo e no rosto, produzem e liberam uma substância oleosa chamada sebo. Como consequência, os poros são obstruídos por óleo e células mortas da pele, o que favorece a erupção de cravos e espinhas. Para diminuir a incidência da acne nesse período, é indicado aumentar o consumo de água, evitar alimentos muito gordurosos, como laticínios, açúcares e óleos, e lavar o rosto duas vezes ao dia.

Vale ressaltar que diversas dúvidas relacionadas ao ciclo menstrual podem demandar uma abordagem individualizada. A consulta a um profissional torna-se essencial para assegurar informações precisas e obter esclarecimentos sobre a saúde íntima individual. Ainda assim, a compreensão do tema é um passo crucial para desmistificar ideias equivocadas, possibilitando uma relação mais saudável e consciente com o próprio corpo.

Autora: Marina Giannini.

Fonte: Jornalismo Júnior/USP.