Supostamente inofensivos, filtros do Instagram simulam rostos e aparências irreais, gerando consequências na autoestima dos usuários.
O Instagram é a terceira maior rede social do mundo em número de usuários, com uma base instalada de mais de 1.4 bilhão de perfis. Criada originalmente apenas para a publicação de fotos e vídeos, a plataforma conta hoje com muito mais funções e possibilidades. É o caso da ascensão dos influencers, figuras que até então não existiam e, atualmente, dispõem de milhões de seguidores e um alcance surpreendente nos mais variados nichos sociais e de mercado. Além de divulgarem marcas e produtos das mais diversas gamas, os influenciadores digitais passaram a criar seus próprios filtros para a publicação de fotos no feed ou nos stories. A ferramenta foi incorporada ao Instagram em 2016, com inspiração do Snapchat.
Assim como na rede rival, os filtros começaram a circular como forma de entretenimento, uma vez que possibilitaram a criação de jogos interativos, quizzes, rostos engraçados etc. Com a modernização da função, outras opções surgiram: agora, é possível afinar o nariz, clarear a pele e simular procedimentos estéticos. Essas modificações, entretanto, podem gerar consequências negativas inesperadas.
PHOTOSHOP INSTANTÂNEO
Tornou-se de fácil acesso para o usuário filtros que escondem as imperfeições e inseguranças com o próprio rosto, funcionando como uma espécie de “photoshop instantâneo”. Suprimindo a intenção inicial de ser uma forma de se divertir, essas opções de efeitos que simulam um rosto longe do real acabam causando muitos problemas relacionados à autoestima e acarretam também no aumento da demanda de cirurgias plásticas.
Para a cirurgiã plástica Patrícia Marques, 37, houve um aumento na procura por procedimentos estéticos na pandemia, período no qual crianças e adolescentes passaram a ficar mais tempo expostas à internet e, consequentemente, aos filtros que as redes sociais exibem. “Nos últimos anos, tem sido muito comum no laboratório pessoas que levam a foto com um filtro aplicado, e eu noto isso normalmente entre as pessoas mais jovens. Antigamente, as pessoas traziam mais fotos de artistas”, relata.
APARÊNCIA IRREAL
“Os filtros levam à baixa autoestima pois tudo que fazem é simular uma aparência perfeita que não existe, fazendo com que as pessoas procurem cirurgias plásticas para atingir essa suposta perfeição”, afirma a psicóloga Yara Soares, 29. Ela completa afirmando que a busca excessiva por um corpo perfeito pode desencadear transtornos psicológicos, como a dismorfia corporal e a síndrome da feiúra imaginária.
“A pessoa com tal problema costuma evitar a vida social, se preocupa com determinadas partes do corpo. Muitas pessoas chegam a fazer cirurgia plástica, porém o transtorno não será resolvido pois, eventualmente, a pessoa irá encontrar mais defeitos em si”, ressalta Soares.
Em outubro de 2019, o Instagram anunciou uma medida que tinha como objetivo a remoção e reprovação de filtros que simulavam cirurgias plásticas, além de adicionar uma ferramenta de denúncia aos filtros que violam as políticas da rede. Porém, mesmo assim, a presença de tais filtros ainda é muito comum no aplicativo.
ALTERNATIVAS AOS FILTROS
Patrícia Marques apresenta um olhar mais pessimista acerca de como essa situação pode ser revertida: “Essa noção de se apresentar para o mundo de uma maneira idealizada é muito forte, de não mostrar nenhuma fraqueza e só postar o que é bom. Então, honestamente, eu acho que a curto e médio prazo isso não vai mudar”.
Para Yara Soares, nesse contexto, há apenas uma forma de mitigar os impactos causados pelos filtros estéticos: “Eles teriam que mostrar pessoas reais, com suas imperfeições. O correto seria falar mais sobre o assunto, ter grupos de apoio que promovam saúde mental para quem sofre destes transtornos”.
Com isso, na contramão dos filtros que têm uma aparência artificial, o aplicativo BeReal vem se tornando cada vez mais popular. O recurso, que foi criado no início de 2020, notifica o usuário, uma vez ao dia em um horário determinado, a postar uma selfie e uma foto do que está na sua frente naquele momento. Com tempo cronometrado de dois minutos, o software consegue instigar o usuário a fazer uma foto na qual não se pode produzir uma aparência artificial.
Autor: Victor Locateli.
Fonte: Cásper Líbero.